sábado, 26 de janeiro de 2008

IV - La Cara al Vent (VIII)


Um dos primeiros recitais dos Setze Jutges e quando ainda eram só nove (antes de 1965): (da esquerda para a direita) Josep Maria Espinàs, Delfí Abella, Xavier Elies, Enric Barbat (fila de cima), Guillermina Motta, Remei Margarit, Maria del Carme Girau (ao centro), Pi de la Serra e Miquel Porter (em baixo).


Na Catalunha, um artigo de Lluís Serrahima inspirado em Josep Benet, "Ens Calen Cançons d'Ara" [Precisamos de canções de hoje], publicado na revista Germinàbit de Janeiro do ano de 1959, tinha descerrado uma nova etapa para a normalização do uso do Catalão através de um meio de grande audiência entre os jovens como era a canção moderna. Gente com escassas faculdades musicais, mas com muito siso, vontade e desejo de relançar o idioma próprio, como o escritor Josep Maria Espinàs, o crítico de cinema Miquel Porter ou o psiquiatra Delfí Abella, entram em cena e inventam Els Setze Jutges [os Dezasséis Juízes]. Canção distinta e em Catalão.

Josep Benet, advogado, historiador, alma de tantas iniciativas em prol da recuperação dos sinais da identidad do país, democrata-cristão independente favorável a uma luta unitária de fundo, que foi com toda a probabilidade o maior criador de ideias da história da luta contra o franquismo... Josep Benet tinha precisamente acabado de recriar as "sardanes" quando se depara com a necessidade de reencontrar linguagens de futuro que contactem com os jovens. Crê que a canção moderna pode funcionar, mas nem as tímidas tentativas de Josep Guardiola ou das Irmãs Serrano, de colocar caroços em língua vernácula - termo que era popular no Concílio Vaticano II - lhe serviam. Pensou primeiro no mote, "Ens calen cançons d'ara", e deu a Lluís Serrahima todo o guião do artigo que, por último, levaria aquele slogan como título.

A coisa foi crescendo, mas eram poucos, todos cantavam por serviço ao país, sempre como algo a saber a pouco, e o produto resultante, nas palavras do mesmo Benet, não passava de uma tradução do género francês e um pouco de trazer por casa. A irrupção de Raimon, segundo dizia Benet, muda o panorama. Raimon tem força, Raimon é músico, cria um produto bom, de autoria própria, susceptível de se internacionalizar e, em suma, Raimon é um intelectual, um homem com estudos e muito lido, capaz de estar ao lado de Fuster e de Espriu, de Miró e de Tàpies. Benet diz com segurança que se Raimon não tivesse surgido naquele momento, a Nova Cançó teria corrido perigo. "Raimon foi decisivo, foi uma grande sorte que tivesse aparecido naquele momento", concluia.

Concessão da Medalha de Ouro pelo Parlamento da Catalunha, em 13 de Abril de 2007, em reconhecimento pelo papel cultural (e social) iniciado pelos Setze Jutges. Quando dois dos membros fundadores, Miquel Porter e Delfí Abella eram já falecidos.

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