Al meu cervell que deconec /
No meu cérebro que desconheço
arrossar de mel obren portes /
arrozais de mel abrem portas
a llunes plenes juganeres, /
a luas cheias brincalhonas
que entre tarongers i llimeres /
que entre laranjeiras e limoeiros
i bresquilleres i ametllers, /
e damasqueiros e amendoeiras,
van perseguint totes les ombres /
perseguem todas as sombras
darrere els pins e els garrofers, /
por trás dos pinheiros e as alfarrobeiras,
els pins e els garrofers /
os pinheiros e as alfarrobeiras
A luz também é essência daqueles quadros. Veremos mais adiante que a luz aparece quinze vezes nas suas canções. Fala da sua luz de Xátiva no diário Les Hores Guanyades: "Neta i suau a l'hivern, esclatant i densa a l'estiu" ("Limpa e macia no Inverno, tórrida e densa no Verão"), "la llum que he estimat" ("a luz que amei"), para concluir numa citação mais geral.
Volta o recrudescer das abcissas e ordenadas espaço (Xátiva) / tempo (infância-adolescência) no tema "Al meu país la pluja", também supracitado. Uns versos a capella introduzem o tema; é como um regresso ao cancioneiro tradicional, mas feito por Raimon: "Al meu país la pluja no sap ploure: / o plou poc o plou massa; si plou poc és la sequera, / si plou massa és un desastre". Na verdade no País Valenciano sentem na pela as ciclotimias da meteorologia, a última foi por causa da barragem de Tous; apenas umas horas evitaram que Raimon a sofresse, porque estava em Xátiva a rodar um programa de televisão.
[A quarta canção presente na caixa de música, Al meu país la pluja, foi incluída pela primeira vez no disco de 1984, Entre La Nota I El So. E é também essa primeira versão que trazemos aos vossos ouvidos. Haveria melhores, talvez. Mas, se se justificar, ainda por cá traremos outra. Ao vivo, obviamente.]
Al meu país la pluja
Al meu país la pluja no sap ploure: /
No meu país a chuva não sabe chover:
o plou poc o plou massa; /
Ou chove pouco ou chove demasiado;
si plou poc és la sequera, /
Se chove pouco é a seca,
si plou massa és un desastre. /
se chove demasiado é um desastre.
Qui portarà la pluja a escola? /
Quem levará a chuva à escola?
Qui li dirà com s'ha de ploure? /
Quem lhe dirá como se deve chover?
Al meu país la pluja no sap ploure. /
No meu país a chuva não sabe chover.
No anirem mai més a escola. /
Nunca mais iremos à escola.
Fora de parlar amb els de la teua edat
res no vares aprendre a escola. /
Excepto o falares com os da tua idade
nada aprendeste na escola.
Ni el nom dels arbres del teu paisatge,
ni el nom de les flors que veies,
ni el nom dels ocells del teu món,
ni la teua pròpia llengua. /
Nem o nome das árvores da tua paisagem,
nem o nome das flores que vias,
nem o nome dos pássaros do teu mundo,
nem a tua própria língua.
A escola et robaven la memòria,
feien mentida del present. /
Na escola te roubavam a memória,
faziam mentira do presente.
La vida es quedava a la porta
mentre entràvem cadàvers de pocs anys. /
A vida ficava à porta
enquanto entravam cadáveres de poucos anos.
Oblit del llamp, oblit del tro,
de la pluja i del bon temps,
oblit de món del treball i de l'estudi.
"Por el Imperio hacia dios"
des del carrer Blanc de Xàtiva. /
Esquecimento do raio, esquecimento do trovão,
da chuva e do bom tempo,
esquecimento do mundo do trabalho e do estudo.
"Pelo Império para deus"
desde a Rua Branca de Xátiva.
Qui em rescabalarà dels meus anys
de desinformació i desmemòria? /
Quem me ressarcirá dos meus anos
de desinformação e desmemória?
Al meu país la pluja no sap ploure:
o plou poc o plou massa;
si plou poc és la sequera,
si plou massa és un desastre.
Qui portarà la pluja a escola?
Qui li dirà com s'ha de ploure?
Al meu país la pluja no sap ploure.
É esta canção, em suma, a parte recitativa, a reflexão que tinha anunciado em Les Hores Guanyades:
Na escola que tivemos, universidade incluída, não nos ensinaram a ler nem a ouvir. Ensinaram-nos a reconhecer as letras que formam as palavras e pouco mais. Não nos ensinaram a reconhecer os sons e os silêncios que formam a música. E foi de tal maneira assim que tenho a sensação de passar a vida a aprender a ler e a escutar. E não falemos de olhar nem do olfacto: nestes campos o "analfabetismo" é total.
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