domingo, 27 de janeiro de 2008

IV - La Cara al Vent (IX)

Benet, então muito chegado a Fèlix Millet e a Maurici Serrahima, começa a estabelecer contactos e mecenas e patrícios que tinham vindo a pagar livros que com muito trabalho passavam pela clandestinidade - famílias catalanistas como as jámencionadas e os Carulla, os Ballbé, os Carner, ou os Pujol - ajudam-no. O seu principal agitador, Josep Espar Ticó, a quem uma singela metátese de letras permite o bem achado e combativo alter de "Espartaco", lidera a fundação de uma empresa discográfica, EDIGSA, sigla de Editora General Sociedad Anónima, em nada suspeita, porque tudo o que levava SA era sinónimo de capital, e para o franquismo todo o capital era ofício dos seus. Porém, cedo descobririam que esse axioma não existia. Josep Espar tinha antecedentes policiais, fichado pela Brigada Social, temível polícia política da ditadura, que torturava com terrível frequência, e o que será anos depois chamado para dirigir a editora, Claudi Martí Pla, também acabaria por tê-los, antecedentes; seria um dos primeiros detidos da Assembleia da Catalunha (23 de Maio de 1971), principal organização de massas de luta contra o franquismo que juntava a maioria das tendências políticas, sociais, culturais e religiosas do país.

Edigsa reúne um conjunto de accionistas pequeno, de profissionais liberais, com um núcleo duro no que depois seria Convergència Democràtica de Catalunya, liderada pelo próprio Jordi Pujol e o seu cunhado, Francesc Cabana, os irmãos Espar, Josep e Ignasi, Ermengol Passola ou Salvador Casanovas, contrabalançados por pessoas mais à esquerda, como Francesc Vila-Abadal, socialista, o arquitecto Oriol Bohigas, próximo do PSUC, e o próprio Benet.

Coral Sant Jordi - Josep Maria Espinàs

Coral de l'Agrupació Catalana d'Itàlia - Grau Carol i Orquestra

Miquel Porter - Josep Maria Espinàs
Alguns dos primeiros Epês da Edigsa, lançados em 1962.


Edigsa constitui-se com um capital de 300 mil pesetas em finais de 1961, com sede em Vic, e a sua primeira gravação é um Ep do Coral Sant Jordi, dirigido por Orioll Martorell. O seu papel na difusão da canção catalã vai ser notável, visto com a perspectiva distante da história, mas os seus primeiros momentos vão ser uma confusão, porque haveria divisões pelo confronto entre línhas de pensamento diferentes do país e do mercado. Raimon acabaria por sair, e tê-lo-ia feito mais cedo se algumas cabeças mais bem assentes, como Josep Benet e Maurici Serrahima, não tivessem intervindo. Serrahima, que considera Raimon "um poeta, um músico e um cantor de primeiro nível", e lhe reconhece o mérito de "restabelecer também na Catalunha a ideia, por vezes difusa, de que falar Valenciano é falar Catalão", como o conta no quarto volume das suas memórias:

Agora os da Edigsa - a sociedade editora de discos que vingou muito pela actuação e popularidade dos Setze Jutges e, sobretudo, de Raimon, que foi posto no topo, por uma estranha inveja - ofereceram-lhe [a Raimon] a doação de uma acção, de cinco mil pesetas nominais, para que pudesse ter uma intervenção pessoal e, se fosse preciso, algum cargo.

Raimon nunca teria notícia da acção que Serrahima refere. Mais tarde, depois de encaixar que Raimon tinha vendido perto de 40 mil discos de um dos seus primeiros dois discos, cifra astronómica não só para a canção numa língua minoritária e proscrita, Serrahima diz:

Como é que se pode explicar que Raimon não vá a Paris e não tente cantar na televisão francesa ou na italiana, única maneira de superar o boicote da daqui? Sempre o medo, a angústia pelo que possa acontecer... O mal da Edigsa é que não foi concebida como um negócio normal; se não fosse assim, tiraríamos muito mais partido dele, e exploraríamos os elementos que a constituem; em primeiro lugar, Raimon.

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