quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

III - Una Ciutat Difícil (I)

No ano de 1957, quando Raimon não tinha ainda feito os dezassete anos, deixa Xátiva. Deixa-a traumaticamente porque tinha ficado claro que ali se tinha urbanizado a sua paisagem interior, porque ali havia uma família bem vivida e bons amigos. Quando tudo isso fica para trás, necessariamente se tem vontade de regressar, como está patente na "Cançó de la Mare", quando termina com um reiterativo "jo sé, jo sé, jo sé, jo sé / que tornaré al carrer Blanc". É o mais lógico quando para trás está tudo e à frente não há nada, mas o tempo iria enchê-lo, e esta expectativa é um motor de explosão que faz avançar a máquina humana, apesar de todas as forças centrípetas.

Uma das suas primeiras canções explica demasiado bem o que passava pela cabeça criativa de "Pele". Não podia senão chamar-se "Disset Anys".

"Se'n va anar i tres cançons de Raimon", disco de média duração de 1963 que contém pela primeira vez a canção de hoje, Disset Anys .

[Devido a incompatibilidades técnicas, esta canção, a versão original, do disco cuja capa aqui expomos, está um bocadinho mais lenta que o tempo real. Isso decorre de ter sido gravada em formato wma, e é um problema que não consegui resolver. Resta-nos a alegria de podermos descarregá-la e então ouvi-la como deve ser. Vale ainda mais a pena se tivermos presente que é, nesta altura da história, aceder a esta gravação original através da rede. Felizmente que parece ser apenas esse o problema, pelo que aparecerão algumas mais a padecer desta enfermidade.]

Disset Anys

Tots els somnis trencats. /
Todos os sonhos quebrados.
Tots els castells per terra. /
Todos os castelos desabados
Tot allò que hem viscut
tan endins s'ha enfonsat. /
Tudo aquilo que vivemos
Para tão fundo se afundou.

Què s'ha fet dels 17 anys? /
Que resta dos 17 anos?
Què s'ha fet d'aquells ulls,
d'aquelles mans tan pures?
Que resta daqueles olhos,
daquelas mãos tão puras?

Què s'ha fet,
què s'ha fet...?

Tant de cel se n'ha anat,
tanta mort al darrera
de tot cor. /
Tanto céu partiu,
tanta morte para trás
de todos os corações.

Tant de plor,
tant de plor... /
Tanto choro,
tanto choro...

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