terça-feira, 15 de janeiro de 2008

III - Una Ciutat Difícil (VI)

Com Paris visto, vai querer ir a Londres, mas a façanha já era demasiado complicada para conseguir com duzentos "duros", tendo em conta que então era impossível atravessar a Mancha de carro. De maneira que gastou o dinheiro na viagem e, uma vez na ilha, foi arranjar trabalho, como tantos e tantos estudantes. Vai trabalhar numa obra, com um martelo-pneumático que, apesar de lhe castigar as mãos, vai permitir-lhe ganhar umas maquias que vai investir em livros e moda... Toda a gente já reparou que Raimon cuida da forma como se veste. Inglaterra mandava durante os anos sessenta, e depois seria a Itália, circunstância que lhe facilitaria a tarefa de combinar cores, se fosse preciso com valentia.

Uma viagem menos estimulante vai ser a que iniciaria em 1962, a Ronda. Ronda é um lugar muito bonito, um monte de história pendurada numa escarpa cobiçada por combatentes, imortalizados, digamo-lo assim, pela famosa série televisiva Curro Jiménez, toreiros e cantaores, mas Raimon não vai poder disfrutar dela porque a sua missão era obrigada: o serviço militar, penoso e longo. Raimon pretendia fazer as milícias universitárias, mas seria suspenso por razões óbvias de expediente não académico. Naturalmente, ele, avant la lettre, não acreditava nas pistolas nem na utilidade do exército, e ter de passar por isso durante alguns verões de jorrante suor na Penibética, para acabar feito em tropa, não lhe agradavam nada, mas as milícias abreviavam o serviço e permitiam estudar. Tampouco vai ser possível: a "catalogação" de contrário ao sistema tinha que se pagar naturalmente naquele exército que o tinha criado. E Raimon terá que somar aos Verões das milícias uma outra na mili normal em Paterna.

A terceira grande viagem é a mais pequena. O trajecto doméstico de Valência a Xátiva, que Raimon fazia praticamente cada fim-de-semana dos seus anos universitários que aqui encerramos. Deixamo-lo licenciado em Filosofia e Letras, no ramo de História, e o contraponto de tristeza por o seu pai não ter podido vê-lo, que morreu em 1961. Para um trabalhador de esquerda, era um grande orgulho poder ter um filho na universidade.

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