sábado, 25 de agosto de 2007

Sei que me Esperas

Luís Cília - Contra a ideia da violência a violência da ideia

Contra a Ideia da Violência, a Violência da Ideia (1973)


O blogue A Cantiga foi uma Arma não tem o objectivo dos média: fazer tábua rasa do passado, na busca da desmemória completa e da desorientação que nos leva ao alheamento que nos põe a "funcionar mesmo bem".

Por isso, hoje temos por cá o Luís Cília. Se os média já o desprezam, porque haveríamos ter comportamento semelhante?


Sei que me esperas

Sei que me esperas lutas e confias
na minha voz subterrânea de combate
na força dos meus gritos de rebate
na coragem das minhas agonias

Sei que me esperas nas ruas ou vielas,
nas aldeias, no mar ou nas cidades,
em todos os lugares em que haja celas,
olhos petrificados de ansiedades

Anda comigo, vou falar da esperança
da vida que ainda agora principia
Perde essa amarga e vã desconfiança
toma a minha mão de amigo e confia

Anda comigo, eu canto as tuas dores
sou mais poeta sendo teu irmão
nesta densa floresta sem flores
o sangue e a alma são o mesmo pão

Quando as verdades forem as que amamos
no silêncio do nosso pensamento
e a força que nos guia o movimento
ganhar a paz que tanto desejamos

Quando rufarem todos os tambores
Anunciando a grande cavalgada
e os heróis coroados de flores
cantarem a vitória desejada

Vamos colher o trigo semeado
cantar a vida pelos campos fora
A pouco e pouco vai nascer a aurora
e é muito urgente estarmos lado a lado

domingo, 19 de agosto de 2007

Cantiga para Quem Sonha

Luís Goes - Canções de Amor e de Esperança

Lp Canções de Amor e Esperança (1971)
(quem tiver uma capa a cores, escreva uma mensagem)


Para hoje, um grande cantor - talvez o maior cantor de fado de Coimbra vivo: Luís Goes. Esta "Cantiga para Quem Sonha" está incluída no seu álbum "Canções de Amor e Esperança", de 1971. Trata-se de uma bela melodia. Será que já não se conseguem fazer canções assim?


Tu que tens dez reis de esperança e de amor
grita bem alto que queres viver.
Compra pão e vinho, mas rouba uma flor.
Tudo o que é belo não é de vender

Não vendem ondas do mar
nem brisa ou estrelas, só a lua cheia
Não vendem moças de amar
nem certas janelas em dunas de areia.

Canta, canta como uma ave ou um rio
Dá o teu braço aos que querem sonhar
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.

Tu que crês num mundo maior e melhor
grita bem alto que o céu está aqui.
Tu que vês irmãos, só irmãos em redor,
Crê que esse mundo começa por ti.

Traz uma viola, um poema,
um passo de dança, um sonho maduro.
Canta glosando este tema,
Em cada criança há um homem puro.

Canta, canta como uma ave ou um rio
Dá o teu braço aos que querem sonhar
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.

domingo, 12 de agosto de 2007

Tourada


Simples com a canção que Tordo levou ao Festival da Canção, em 1973.


Grande, heróico e satírico poema de José Carlos Ary dos Santos interpretado pelo seu grande amigo Fernando Tordo.



Tourada


Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.

Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.

Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.

Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.

Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.

Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...

Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.

E diz o inteligente
que acabaram as canções.

domingo, 5 de agosto de 2007

Què volen aquesta gent?

Què volen aquesta gent, Epê de 1968 (Ed. Concéntric)


Baseada em factos reais e frequentes, este texto de Lluís Serrahima musicado pela maiorquina María del Mar Bonet, uma das maiores vozes femininas de todos os tempos na música folk, descreve as incursões nocturnas da polícia política, irrompendo casas adentro, num clima de terror que também por cá muitos sentiram. O estudante lança-se da janela para escapar à tortura.
A ditadura e a opressão não conhece fronteiras.


De matinada han trucat, / De madrugada bateram (à porta)
són al replà de l'escala; / Estão no começo das escadas
la mare quan surt a obrir / A mãe quando vai abrir
porta la bata posada. / Está de roupão

Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?

"El seu fill, que no és aquí?" / "O seu filho, não está aqui?"
"N'és adormit a la cambra. / "Está a dormir na cama.
Què li volen al meu fill?" / Que querem do meu filho?"
El fill mig es desvetllava. / O filho acordava.

Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?

La mare ben poc en sap, / A mãe sabe muito pouco
de totes les esperances / de todas as aspirações
del seu fill estudiant, / do seu filho estudante
que ben compromès n'estava. / Que tão comprometido estava

Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?

Dies fa que parla poc / Faz dias que fala pouco
i cada nit s'agitava. / E cada dia estremecia
Li venia un tremolor / Vinha-lhe um tremor
tement un truc a trenc d'alba. / Temendo uma chamada ao romper d'alvorada.

Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?

Encara no ben despert / Ainda não completamente desperto
ja sent viva la trucada, / Já sente bem forte a batida
i es llença pel finestral, / E lança-se pela janela
a l'asfalt d'una volada. / Ao asfalto de um voo.

Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?

Els que truquen resten muts, / Os que batem permanecem calados
menys un d'ells, potser el que mana, / Menos um deles, talvez o que manda,
que s'inclina pel finestral. / Que se inclina da janela.
Darrere xiscla la mare. / Atrás a mãe grita.

Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?

De matinada han trucat, / De madrugada bateram
la llei una hora assenyala. / A hora assinala a lei.
Ara l'estudiant és mort, / Agora o estudante está morto,
n'és mort d'un truc a trenc d'alba. / Morreu de uma batida ao romper d'alvorada.

Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?