Raimon começa a aprender a ler com uma professora, doña Nieves, uma ex-monja que dá em sua casa aquilo a que chamavam "a escola dos cagões", forma coloquial do infantário. É depois que, já a saber ler e as quatro regras, faz a primária nos claretians (que vol dir aixó?) e o bacharelato no instituto que tem o nome do pintor de Xátiva Josep de Ribera.
Fora do colégio-convento, lá onde Jesús Fernández Santos diz liricamente que a lua estaca, "extramuros la luna se detuvo", segundo [Manuel Vásquez] Montalbán uma das melhores frases da literatura espanhola, Raimon procura compulsivamente o saber. Teria que satisfazer o seu desejo de curiosidade fora de aulas e lê tudo o que lhe ia parar às mãos, que não era assim tanto - pouco mais que os romances do Oeste da série Rodeo, e Unamuno, Baroja, Azorín..., na "Colecção Austral" - por culpa da precariedade cultural daqueles "anos de penitência", nas palavras de Carlos Barral. Vai ao cinema sempre que pode e fala muito com os amigos, "parlàvem de tot, i del bé i del mal" ("falávamos de tudo, e do bem e do mal"). Que resta de tudo isso? As vastas referências presentes nas suas canções, as leituras posteriores de Camus, Sartre e Kierkegaard, e amigos que foram resistindo ao passar do tempo, Joan Joan, que os anos fizeram com que se parecesse com o Sean Connery, Josep-Lluís García, "Cote", e Josep-Ramon Torregrossa, "Torre", que vive em Madrid mas que se desloca sempre que pode para ir aos recitais de Raimon.
Sincronicamente ao contacto com os livros, começa a receber influências musicais. O País Valenciano é terra de bandas, de orquestras de metal que tanta divulgação de música têm feito. A maioria dos melhores músicos de instrumentos de sopro que dirigem as orquestras pelo Estado fora são valencianos, e explicam-no com o dito hiperbólico seguinte: um músico valenciano dá voltas à volta do piano. Que faz? Procura o buraco.
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