Numas declarações dessa pré-história a Jesús García de Dueñas, Raimon dizia:
Em Espanha não existe uma tradição da canção popular. Podia ter havido com as canções da guerra civil, mas tudo isso, infelizmente, perdeu-se. Houve uma tentativa, a de García Lorca (canções populares espanholas que recolheu, harmonizou para piano e para acompanhar La Argentinita), mas não nos enganemos: isso era muito minoritário e partia de uma mistificação de base. Agora que temos? Canções que nos falam de como vais, como é bonito o campo, que bem que vamos de secas, dá-me a mão, não me dês a mão, que olhos tens e etcetera, etcetera. Aqui não há qualquer motivo de interesse sobre o qual notar uma evolução. A mim, particularmente, interessa-me a canção francesa.
Raimon tinha ouvido Brassens, mas à sua maneira, não mais nenhum Brassens que o da austeridade essencial de voz e guitarra, na altura sem contrabaixo, e na ideia de que as letras tivessem um conteúdo e se aproximassem a ser poemas cantados, se bem que nuns poemas especiais em função, que já eram escritos para uma funcionalidade que não a original de serem lidos ou recitados; Raimon começa, portanto, a cantar mais preocupado com os textos que com as músicas, ao dar saída à sua paixão pela literatura. Havia, portanto, uma poética - num primeiro sentido - maior em Brassens que em Raimon. Mas tampouco havia Brassens no primeiro Raimon, ou, em suma, no conteúdo das letras. Brassens explicava situações e Raimon pensava em voz alta.
Em Espanha não existe uma tradição da canção popular. Podia ter havido com as canções da guerra civil, mas tudo isso, infelizmente, perdeu-se. Houve uma tentativa, a de García Lorca (canções populares espanholas que recolheu, harmonizou para piano e para acompanhar La Argentinita), mas não nos enganemos: isso era muito minoritário e partia de uma mistificação de base. Agora que temos? Canções que nos falam de como vais, como é bonito o campo, que bem que vamos de secas, dá-me a mão, não me dês a mão, que olhos tens e etcetera, etcetera. Aqui não há qualquer motivo de interesse sobre o qual notar uma evolução. A mim, particularmente, interessa-me a canção francesa.
Raimon tinha ouvido Brassens, mas à sua maneira, não mais nenhum Brassens que o da austeridade essencial de voz e guitarra, na altura sem contrabaixo, e na ideia de que as letras tivessem um conteúdo e se aproximassem a ser poemas cantados, se bem que nuns poemas especiais em função, que já eram escritos para uma funcionalidade que não a original de serem lidos ou recitados; Raimon começa, portanto, a cantar mais preocupado com os textos que com as músicas, ao dar saída à sua paixão pela literatura. Havia, portanto, uma poética - num primeiro sentido - maior em Brassens que em Raimon. Mas tampouco havia Brassens no primeiro Raimon, ou, em suma, no conteúdo das letras. Brassens explicava situações e Raimon pensava em voz alta.
Aquela preocupação com as letras, dizer alguma coisa e dizê-lo bem dito, vai ser uma força motriz da Nova Cançó. Josep Pla destaca, naqueles primeiros anos, o valor de Raimon como poeta; agrada-lhe tanto que pensa que os textos das suas canções são de Joan Fuster. Quando descobre que Raimon as faz sozinho, escreve: "Na actualidade [1966] Raimon é uma das chaves da sensibilidade popular do país, sobretudo no mundo que emerge. É o seu grande poeta, um grande poeta". Não será preciso dizer que Pla era - é - o grande escritor. Uma referência incontornável na história da literatura catalã.
É difícil falar de influências de Raimon nos seus começos, mas é inevitável tentar explicar de onde brota "aquilo". Quando Raimon faz "Al Vent", diria que nem sequer tinha em mente a melodia da flauta que tocara; isso viria mais tarde. Raimon canta tal como lhe sai a voz poderosa que tem, isso sim, com o fiato bem entranhado pela escola de "sopradores" das bandas; e se por acaso o seu canto se lembra, remotamente, alguma coisa é o seu canto gritado desde as profundezas do corpo e da alma, é ao blues e ao flamenco, que não obstante responde por cante jondo, por aspiração fonética de hondo, fundo. Retomaremos este assunto, mas quando nos detivermos na música. Por agora enunciamos apenas o mínimo para contextualizar o fundo cultural numa viagem de moto de um jovem estudante que tira partido estético do vento.
É difícil falar de influências de Raimon nos seus começos, mas é inevitável tentar explicar de onde brota "aquilo". Quando Raimon faz "Al Vent", diria que nem sequer tinha em mente a melodia da flauta que tocara; isso viria mais tarde. Raimon canta tal como lhe sai a voz poderosa que tem, isso sim, com o fiato bem entranhado pela escola de "sopradores" das bandas; e se por acaso o seu canto se lembra, remotamente, alguma coisa é o seu canto gritado desde as profundezas do corpo e da alma, é ao blues e ao flamenco, que não obstante responde por cante jondo, por aspiração fonética de hondo, fundo. Retomaremos este assunto, mas quando nos detivermos na música. Por agora enunciamos apenas o mínimo para contextualizar o fundo cultural numa viagem de moto de um jovem estudante que tira partido estético do vento.
2 comentários:
El disco de Pino Donaggio es de 1966, y por supuesto que puedes usar la foto de la portada.
"Moltas mercés", amic.
Enviar um comentário