sábado, 1 de agosto de 2009

VIII - Tu que m'escoltes amb certa por (III)

"T'he conegut sempre igual", tema inspirado na vida clandestina do então secretário-geral dos comunistas do PSUC, Gregorio López Raimundo, em nenhum momento menciona o seu nome e hoje não soa a datado, senão que é actual como explicação do que foi. Estávamos no ano de 1973, Raimon encontra López Raimundo no Quartier Latin de Paris. Falam amigavelmente. Apenas alguns dias depois, volta a encontrá-lo, mas a circunstância é completamente diferente: no passeio de Maragall. Em Paris, o dirigente do PSUC é um cidadão normal, em Barcelona, o homem mais procurado pela polícia, portanto não se saúdam. Ambos sabem que uma imprudência pode levá-lo à "comissaria" e à prisão. Gregorio López Raimundo leva consigo um honroso historial de luta e resistência às torturas mais selvagens, que também lhe valeram um poema de Rafael Alberti.


[A canção de Raimon, a n. 26 na caixa de música, é a versão original, incluída no álbum de 1974, "A Victor Jara".]


Alerta vius, jo sé que si caiguesses
tants anys, molts anys, massa anys et demanaven.
/

Alerta vives, eu sei que se caísses

tantos anos, muitos anos, demasiados anos te pediriam.

Entre els sorolls dels cotxes, del carrer

i de la gent que atrafegada passa,
he vist molt clar que són molts els que lluiten

i que com tu calladament treballen. /
Entre os ruídos dos carros, da rua
e da gente que vai passando atarefada,
vi claramente que são muitos os que lutam
e que como tu silenciosamente trabalham.


T'he conegut sempre igual com ara,

els cabells blancs, la bondat a la cara,

els llavis fins dibuixant un somriure

d'amic, company, conscient del perill.
/

Conheci-te sempre igual, como agora,

os cabelos brancos, a bondade no rosto,

os lábios macios a desenharem um sorriso
de amigo, companheiro, consciente do perigo.


Sense parlar m'has dit "tot va creixent",

lluita d'avui pel demà viu i lliure,

que es va forjant aquests dies terribles,

temps aquests temps de tantes ignoràncies. /
Sem falar disseste "tudo vai crescendo",

luta de hoje pelo amanhã vivo e livre,

que se vai forjando nestes dias terríveis,

tempo, este tempo de tantas ignorâncias.


No m'he girat mentre serè em creuaves,
he sentit fort un gran orgull molt d'home,

no em trobe sol, company, no et trobes sol
i en som molts més dels que ells volen i diuen. /
Não me voltei enquanto quando sereno te cruzaste comigo,

senti forte um grande orgulho de homem,
não estou sozinho, companheiro, não estás sozinho

e somos muitos mais que os que eles querem e dizem.

Aquest meu cant és teu, l'he volgut nostre;

aquest meu cant és teu, l'he volgut nostre.
Alerta vius, jo sé que si caiguesses

tants anys, molts anys, massa anys et demanaven.
/

Este meu canto é teu, qui-lo nosso,

este meu canto é teu, qui-lo nosso,

Alerta vives, eu sei que se caísses

tantos anos, muitos anos, demasiados anos te pediriam.


T'he conegut sempre igual com ara.

Conheci-te sempre igual, como agora.



É uma crónica histórica: passado é o feito, não a sua explicação. Tal como a belíssima factura qualitativa de decassílabos navegando sobre uma melodia que extrai de "Veles i Vents". Não podemos dizer o mesmo, por exemplo, de temas como os que Víctor Manuel fez inspirando-se noutros líderes comunistas contemporâneos e companheiros de López Raimundo como Dolores Ibárruri ou o dirigente mineiro asturiano Horacio Fernández Inguanzo, que já foram compostas utilitariamente e sem pretensões a resistir ao tempo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Aprendi mucho

Edward Soja disse...

Obrigado, amigo.

Em breve voltarei ao blogue.

Até lá.