segunda-feira, 3 de agosto de 2009

VIII - Tu que m'escoltes amb certa por (IV)

Em 1968, cúpula do imaginário de todos os progressismos, em que o Maio francês fez tombar os padrões revolucionários e os tanques soviéticos os beliscaram na Checoslováquia, Raimon dá dois recitais que cosem ponto por ponto o padrão - que seria de nós sem as metáforas têxteis! - da mobilização de massas, da canalização de uma revolta carente de cenários e apenas dotada de saídas de emergência. As datas e os motivos ficaram imprimidos e gravados porque, Raimon, no seguimento destes recitais, compõe duas canções: "13 de març, cançó dels creients" e "18 de maig a la villa". É curioso, aliás, que dois títulos de um mesmo ano comecem por números e sejam datas.


Em 13 de Março de 1968, Raimon canta no Gran Price, um ringue boxístico, em benefício das Comissiones Obreras [CO]. As CO foram fundadas em 1964, e em 1966 era criada a Comissió Obrera Nacional de Catalunya. O seu protagonismo como vanguarda das lutas dos trabalhadores durante o franquismo praticamente não teve paralelo, feito que lhe custou altos preços por parte da repressão. Para lá disso, a ditadura cobrou dois mortos pela grave infracção de participar numa greve: em 29 de Outubro de 1971, Antonio Ruiz Villalba, trabalhador da SEAT, e em 3 de Abril de 1973, a central térmica de Sant Adrià del Besòs, Manuel Fernández Márquez. Ambos tombaram a disparos da polícia. A prisão Model estava repleta de líderes das CO, alguns dos quais esperavam julgamento por tribunais militares.


Em 18 de Maio de 1968, Raimon canta na Faculdade de Ciências Políticas e Económicas da Universidade Complutense de Madrid onde, depois, se dá lugar a uma grande manifestação que a polícia neutralizará com o seu aparelho anti-motins. Paris era uma grande barricada e Raimon regista tudo o que estava a acontecer:

["18 de maig a la 'Villa'" é a 27ª canção de Raimon na caixa de música ali ao lado. O primeiro registo data segundo disco ao vivo no Olympia (1969). O segundo surge em "Campus de Bellaterra" (1974) Optámos pela gravação do "Recital de Madrid" onde o ambiente e as palavras de Raimon mais bem a contextualizam. Razões suficientes para não julgarmos necessário traduzi-la.]




I la ciutat era jove,
aquell 18 de maig.
Sí, la ciutat era jove,
aquell 18 de maig
que no oblidaré mai.

Per unes quantes hores
ens vàrem sentir lliures,
i qui ha sentit la llibertat
té més forces per viure.

De ben lluny, de ben lluny,
arribaven totes les esperances,
i semblaven noves,
acabades d'estrenar:
de ben lluny les portàvem.

Per unes quantes hores
ens vàrem sentir lliures,
i qui ha sentit la llibertat
té més forces per viure.

Una vella esperança
trobava la veu
en el cos de milers de joves
que cantaven i que lluiten.

No l'oblidaré mai,
no l'oblidaré mai,
aquell 18 de maig,
no l'oblidaré mai,
aquell 18 de maig
a Madrid.


Canção claramente jonda, com um ostinato de guitarra amplificando o refrão; a propósito, uma das escassas canções de Raimon com refrão, ritornello ou estribilho, tão comum na tradição popular.


Imagens retiradas daqui, daqui e daqui.
Cliquem e leiam os textos, relatos e testemunhos.
Note-se que a imagem da revista Triunfo refere-se ao concerto do "Recital de Madrid", não ao de 18 de Maio de 1968.

2 comentários:

Orio43 disse...

Gràcies pel teu blog, un gran treball de recerca i difusió de l'obra de Raimon, en el mon portugues.
Posare un link en el meu blog.

Bona feina!!

Edward Soja disse...

Moltes gràcies, amic.

Units podrem fer alguna cosa.