Em tempos de cólera, em suma, em tempos em que era preciso muita imaginação para burlar as apertadas margens da censura de textos e das proibições de recitais, Raimon encontra na linguagem simbólica vocábulos suplementários, aditivos, que lhe permitem reforçar a sua mensagem essencial: nação livre, sociedade justa, política de esquerdas.
É neste panorama que cabe entender com significados acrescidos toda uma série de factos, independentemente do valor que possuem por si. A dedicatória de uma canção, "Sobre la pau", a Che Guevara. O livro Poemas i Cançons, pensado ao milímetro, com uma citação do vietnamita Fam Van Dong, o magnífico prólogo de Manuel Sacristán, então membro da direcção do PSUC, expulso da universidade, não obstante ser um dos intelectuais espanhóis de maior prestígio, e a capa de [Antoni] Tàpies, um "No" enorme inspirado em "Diguem no", que depois seria retomado nos cartazes contra a pena de morte. O disco intitulado "A Víctor Jara", cantor chileno cruelmente assassinado pouco depois do golpe de estado do general Pinochet, com a versão de "Te recuerdo Amanda", tema, por coincidência, na linha que une amor e luta.
Coragem, portanto, ao convocar o acto do Palau dels Esports, e a necessária dose de inconsciência que tantas vezes a torna possível, até mesmo nos mais impenitentes praticantes do racionalismo como Raimon.
Raimon figurava numa "lista negra" de cantores, incrivelmente assim chamada, divulgada pela Direcção Geral de Segurança a 14 de Julho de 1975. Havia nela vinte e um nomes, quinze dos quais, catalães. Raimon acumulou, desde a sua irrupção na Universidade de Valência até àquele último ano de vida de Franco, uma ficha policial que precisa de duas gavetas metálicas daquelas que serviam para guardar papéis antes de o ordenador converter tanta matéria em energia. Raimon estava afastado dos considerados "catalano-separatistas", ao lado de, entre outros, Josep Benet, Oriol Bohigas, Josep-Lluís Carod-Rovira, Carles-Jordi Guardiola, Joan Manuel Serrat, Josep M. López Llaví, Albert Ràfols Casamada, Carme Serrallonga, Joan Armet, Alexandre Cirici, Pi de la Serra, Miquel Sellarès e Romà Gubern. As outras entradas do arquivo policial, com adjudicações verdadeiramente surreais, ao lado doutras mais que acertadas, eram, em suma, "PC-PSUC", "anarquismo", "grupúsculos de extrema esquerda", "catalanistas" e "catalanistas de pendor socialista".
É neste panorama que cabe entender com significados acrescidos toda uma série de factos, independentemente do valor que possuem por si. A dedicatória de uma canção, "Sobre la pau", a Che Guevara. O livro Poemas i Cançons, pensado ao milímetro, com uma citação do vietnamita Fam Van Dong, o magnífico prólogo de Manuel Sacristán, então membro da direcção do PSUC, expulso da universidade, não obstante ser um dos intelectuais espanhóis de maior prestígio, e a capa de [Antoni] Tàpies, um "No" enorme inspirado em "Diguem no", que depois seria retomado nos cartazes contra a pena de morte. O disco intitulado "A Víctor Jara", cantor chileno cruelmente assassinado pouco depois do golpe de estado do general Pinochet, com a versão de "Te recuerdo Amanda", tema, por coincidência, na linha que une amor e luta.
Coragem, portanto, ao convocar o acto do Palau dels Esports, e a necessária dose de inconsciência que tantas vezes a torna possível, até mesmo nos mais impenitentes praticantes do racionalismo como Raimon.
Raimon figurava numa "lista negra" de cantores, incrivelmente assim chamada, divulgada pela Direcção Geral de Segurança a 14 de Julho de 1975. Havia nela vinte e um nomes, quinze dos quais, catalães. Raimon acumulou, desde a sua irrupção na Universidade de Valência até àquele último ano de vida de Franco, uma ficha policial que precisa de duas gavetas metálicas daquelas que serviam para guardar papéis antes de o ordenador converter tanta matéria em energia. Raimon estava afastado dos considerados "catalano-separatistas", ao lado de, entre outros, Josep Benet, Oriol Bohigas, Josep-Lluís Carod-Rovira, Carles-Jordi Guardiola, Joan Manuel Serrat, Josep M. López Llaví, Albert Ràfols Casamada, Carme Serrallonga, Joan Armet, Alexandre Cirici, Pi de la Serra, Miquel Sellarès e Romà Gubern. As outras entradas do arquivo policial, com adjudicações verdadeiramente surreais, ao lado doutras mais que acertadas, eram, em suma, "PC-PSUC", "anarquismo", "grupúsculos de extrema esquerda", "catalanistas" e "catalanistas de pendor socialista".
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