sábado, 15 de agosto de 2009

VIII - Tu que m'escoltes amb certa por (X)

Era um recital massivo, 5 mil pessoas, que sob condições normais teria motivado um bom destacamento de jornalistas, crónicas, críticas e, naturalmente, uma linguagem que não precisasse de criptógrafos para ser decifrado: Raimon foge porque o espera a polícia, e o desemprego é uma greve, que também estava obviamente proibida. A crónica ao lado da de Raimon dá também uma dimensão do que era importante ou de como se valorizam as notícias:

Ontem, na cantina do Círculo del Liceu, onde se reúne, desde há muitos anos, a Peña de los Viernes (de que fazem parte muitas personalidades barcelonesas), esta entidade fez uma homenagem de simpatia e afecto a don Luís Martí y Olivares, marquês de Rebalso, sócio número um, famosa personalidade barcelonesa, octogenário, que ocupou altos cargos na cidade, entre os quais, o de chefe superior da polícia, depois da libertação de Barcelona em 1939.

Conhecidos nomes catalães assistem, de facto, à homenagem à ínclita personagem que dirigiu a feroz repressão quando as forças franquistas entraram na cidade: Aleix Buxeres, Lluís Trías de Bes, Tomás Martínez Fraile, Josep M. Mas-Sardà, Francesc Peris-Mencheta, Ignasi Macaya, Gonçal i Àlvar Fuster-Fabra, Miquel Lerín, Ernest Tell, Gabriel Brusolas, Joan Capo, Josep M. Lacalle... Presidia à sessão o capitão general, Alfonso Pérez-Viñeta, o falangista que comandava os pretorianos de Franco, a polícia moura que ocupou Barcelona em 26 de Janeiro de 1939.

Três anos depois do recital na Faculdade de Direito, outra grande convocatória universitária. Campus de Bellaterra. Do recital multitudinário de Bellaterra sairá um disco, graças ao engenho do técnico de som que, quando a polícia quis apreender a matriz do registo, fez passar gato por lebre dando-lhes uma gravação de palhaços do grupo de Aragón, Gaby, Fofó, Miliki e Fofito, artistas do selo Movieplay, como Raimon. O dinheiro obtido destinou-se à célula universitária do PSUC, à compra de uma fabulosa fotocopiadora de última geração, e uma soma foi para militantes libertados e para outras despesas relacionadas com as prisões. Miguel Nuñez, então dirigente do PCE e responsável do Comité de Barcelona do PSUC, um dos líderes carismáticos da história da resistência antifranquista, disso deixa testemunho no seu belíssimo livro de memórias, La Revolución y el Deseo.

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