Raimon reflectiu muito sobre aquele momento de atonia e sobre que contribuição podia dar. Optou pela função de catalisador, o que provoca uma reacção química. Consciente da sua capacidade mobilizadora, aproveitou-a e aplicou-a. Um recital massivo, no maior ajuntamento tentado por um único cantor de língua catalã, 6 mil pessoas nas bancadas, muitas mais na pista. Parecia impossível.
Mas provou-o, com uma inusitada coragem. A coragem era um requisito imprescindível para enfrentar os energúmenos sem escrúpulos encarregados de carregar de sentido a patética palavra "ditadura". Raimon vive sob a permanente tensão dos que enfrentavam um sistema totalitário: detêm-no, fazem-no falar, tem de pedir autorização, enviam-lhe a polícia para o controlar a ele e ao público, tem de levar as canções à censura concerto a concerto, apreendem-lhe o passaporte, proíbem-no por temporadas... "Dels anys patits on tot ha estat perill" ["Dos anos sofridos onde tudo era perigo"], como resume num verso de "Que tothom". Raimon lembra assim aquela experiência de ansiedade permanente:
Proibiam-me o tempo que queriam, interrogavam-me... Havia autênticas bestialidades, como notificar-me a que fosse fazer declarações à esquadra da polícia, a terrível Via Laietana, que só de lá ir já causava... Para me acusarem de ter feito uma canção contra o Papa. Referiam-se ao poema de [Anselm] Turmeda "Elogi dels Diners", do século XVI! E momentos muito duros, momentos muito duros... Quando nos fechámos em Montserrat, pelo Processo de Burgos, eu estava proibido e a coisa foi de mal a pior. Chegaram a fazer-me fazer um requerimento para poderem dar-me permissão para actuar, autorização para pedir autorização. Era aviltante e kafkiano. E aquela impotência...
Manuel Vicent diz com a sua ironia que sempre distancia e liberta: "Raimon levava consigo uma aura de gás lacrimogéneo e à sua volta, dentro do fumo, dançavam guardas com vergasta, censores com carimbos, governadores de bigodinho imperial". Raimon, em idêntica postura de escapar ao ferro, de relaxar com humor, respondia assim a um membro do Clube de Joves de Ontinyent que o entrevistou depois de um recital, em Setembro daquele mesmo ano de 1975:
- Raimon, é muito difícil entrar em contacto contigo... Como podemos localizar-te ou ter informações do teu paradeiro?
- Pfui!!... Mas se é muito simples! Basta irem perguntar a qualquer esquadra da polícia...
Mas provou-o, com uma inusitada coragem. A coragem era um requisito imprescindível para enfrentar os energúmenos sem escrúpulos encarregados de carregar de sentido a patética palavra "ditadura". Raimon vive sob a permanente tensão dos que enfrentavam um sistema totalitário: detêm-no, fazem-no falar, tem de pedir autorização, enviam-lhe a polícia para o controlar a ele e ao público, tem de levar as canções à censura concerto a concerto, apreendem-lhe o passaporte, proíbem-no por temporadas... "Dels anys patits on tot ha estat perill" ["Dos anos sofridos onde tudo era perigo"], como resume num verso de "Que tothom". Raimon lembra assim aquela experiência de ansiedade permanente:
Proibiam-me o tempo que queriam, interrogavam-me... Havia autênticas bestialidades, como notificar-me a que fosse fazer declarações à esquadra da polícia, a terrível Via Laietana, que só de lá ir já causava... Para me acusarem de ter feito uma canção contra o Papa. Referiam-se ao poema de [Anselm] Turmeda "Elogi dels Diners", do século XVI! E momentos muito duros, momentos muito duros... Quando nos fechámos em Montserrat, pelo Processo de Burgos, eu estava proibido e a coisa foi de mal a pior. Chegaram a fazer-me fazer um requerimento para poderem dar-me permissão para actuar, autorização para pedir autorização. Era aviltante e kafkiano. E aquela impotência...
Manuel Vicent diz com a sua ironia que sempre distancia e liberta: "Raimon levava consigo uma aura de gás lacrimogéneo e à sua volta, dentro do fumo, dançavam guardas com vergasta, censores com carimbos, governadores de bigodinho imperial". Raimon, em idêntica postura de escapar ao ferro, de relaxar com humor, respondia assim a um membro do Clube de Joves de Ontinyent que o entrevistou depois de um recital, em Setembro daquele mesmo ano de 1975:
- Raimon, é muito difícil entrar em contacto contigo... Como podemos localizar-te ou ter informações do teu paradeiro?
- Pfui!!... Mas se é muito simples! Basta irem perguntar a qualquer esquadra da polícia...
Sem comentários:
Enviar um comentário