quinta-feira, 30 de julho de 2009

VIII - Tu que m'escoltes amb certa por (II)

O motor mobilizador de massas é claramente um elemento definidor do compromisso cívico de Raimon. E estes recitais têm por vezes um valor acrescido tratando-se de actos organizados por militantes de partidos políticos e de organizações sindicais, estudantis, culturais e de movimentos populares para recolher fundos. Raimon, contudo, recusa o partidismo directo e, ainda que desde uma simpatia não escondida pelo ideário comunista, mantém-se transversal a todas as sensibilidades da luta contra a ditadura. Como se dizia naqueles momentos, Raimon era "unitário".

A lista de recitais com esta funcionalidade de acrescento político é extensa. Mas antes de abordá-la convém deixar claro o pressuposto fundamental. Raimon canta a ética, mas sempre a partir da estética, pelo que se emprega bem a frase-mãe, " a estética é a ética do amanhã". Escreveu-a nem mais nem menos que Máximo Gorki, que explica a Revolução soviética a partir do costumismo e conta abundantes detalhes sobre como se lança a faúlha da agitação. O obreiro Raimon é artístico e, em caso nenhum, pretende degradar o produto ou hipotecar o valor qualitativo a favor da conjuntura; nunca produzirá obras para usar e lançar, panfletos musicais, como farão outros artistas. Todas as canções de Raimon aguentam o passar do tempo pelo que dizem e pelo como o dizem, pelo conteúdo e pela forma. Aliás, as que mais transpõem essa linha divisória sustentam-se porque se entrosam na crónica, sem nomes nem datas.

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