domingo, 19 de julho de 2009

VIII - Tu que m'escoltes amb certa por (I)

Raimon al IQS
Raimon al IQSDuas fotos do recital de Raimon no IQS
(imagens retiradas, respectivamente, do livro "Raimon - l'Art de la Memòria", de David Escamilla
e do Lp "Cançons de la roda del temps")



O recital no IQS, siglas do Insituto Químico de Sarrià, é uma grande manifestação ao ar livre do movimento estudantil. A ele assistem uns 4 mil estudantes; nenhum acto antifranquista tinha registado uma assistência daquela envergadura. A dimensão política de Raimon ganha penso com o seu papel de líder de massas e de elemento mobilizador. Segundo Josep Benet, "Raimon mobilizava, só a sua presença convocava muita gente, e isso, nos anos sessenta, só ele podia fazê-lo." O IQS é o seu primeiro recital substitutivo dos encontros proibidos. Era o mês de Novembro do ano 1966, mas este novo papel já se tinha começado a desenhar nos seus recitais em Paris, especialmente o que teve lugar no Olympia em 7 de Junho daquele ano, cujo recital, graças à retransmissão pela Rádio Europa N.1, ficou registado nos sulcos discográficos. E com ele também o Grande Prémio da Academia Francesa do Disco.

Raimon canta as "canções de luta" que em Espanha lhe proíbem ou censuram, recria novamente um cenário de reunião tipicamente político, onde o orador transmite mensagens que o público cúmplice consensualiza com o aplauso que interrompe a canção - feito inverosímil na música, que só se explica pela vontade política -, e procura frases que situem na luta as canções, para fechar o ciclo do compromisso.

É o caso da dedicatória de "Inici de càntic" aos universitários, intelectuais e artistas que se encerraram no convento dos Caputxins de Sarrià, em 9 de Março do ano lectivo de 1966, para constituir o Sindicato Democrático dos Estudantes da Universidade de Barcelona (SDEUB), que provocou um mal-estar ao franquismo. Salvador Espriu, autor da letra da canção, era um dos barricados e, como todos, detido e represaliado.

Eu não sou um homem político - confessa Raimon -, apesar do que muita gente quis fazer de mim, mas sou, sim, cidadão de consciência política, sei que existem problemas colectivos. Então, desde o meu ponto de vista e com as minhas canções, tentei sempre pôr a minha actividade ao serviço, em primeiro, da luta contra a ditadura, e depois, a favor da solidariedade, do lado dos oprimidos. Com todas as minhas canções, até com os poemas de Ausiàs March.

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