segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Jornada
Não fiques pra trás ó companheiro
É de aço esta fúria que nos leva.
Pra não te perderes no nevoeiro
Segue os nossos corações na treva.
Vozes ao alto
Vozes ao alto
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada,
Ao som desta canção.
Aqueles que se percam no caminho,
Que importa! Chegarão no nosso brado.
Porque nenhum de nós anda sozinho,
E até mortos vão ao nosso lado.
Vozes ao alto
Vozes ao alto
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada,
Ao som desta canção.
sábado, 8 de dezembro de 2007
Coro dos Caídos
E que regresso melhor que com uma das mais violentas canções jamais escritas em Português?
O seu autor? A referência da música popular portuguesa, José Afonso.
Chama-se Coro dos Caídos e não é preciso dizer mais nada.
Urge a reedição desta canção, com melhor qualidade sonora.
Cantai bichos da treva e da aparência
Na absolvição por incontinência
Cantai cantai no pino do inferno
Em Janeiro ou em Maio é sempre cedo
Cantai cardumes da guerra e da agonia
Neste areal onde não nasce o dia
Cantai cantai melancolias serenas
Como trigo da moda nas verbenas
Canta cantai guisos doidos dos sinos
Os vossos salmos de embalar meninos
Cantai bichos da treva e da opulência
A vossa vil e vã magnificência
Cantai os vossos tronos e impérios
Sobre os degredos sobre os cemitérios
Cantai cantai ó torpes madrugadas
As clavas os clarins e as espadas
Cantai nos matadouros nas trincheiras
As armas os pendões e as bandeiras
Cantai cantai que o ódio já não cansa
Com palavras de amor e de bonança
Dançai ó Parcas vossa negra festa
Sobre a planície em redor que o ar empesta
Cantai ó corvos pela noite fora
Neste areal onde não nasce a aurora
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Piedra y Camino
Tão esquecida anda esta cantora. Quem anda cá há mais tempo não devia levar vantagem na memória colectiva? Sim, claro. Mas não quando a memória colectiva é instituída pela superficialidade e pela fugacidade.
Paremos então. Nos tempos que correm, parar é resistir.
Tema do grande e ainda mais esquecido (porque já nos deixou, fisicamente) Atahualpa Yupanqui, nascido Héctor Roberto Chavero Aramburu, no dia 22 de Janeiro de 1908, em Pergamino, Buenos Aires.
Del cerro vengo bajando
Camino y piedra
Traigo enredada en el alma, viday
Una tristeza.
Me acusas de no quererte
No digas eso
Tal vez no comprendas nunca, viday
Porque me alejo.
Es mi destino
Piedra y camino
De un sueño lejano y bello, viday
Soy peregrino.
Por más que la dicha busco,
Vivo penando
Y cuando debo quedarme, viday
Me voy andando.
A veces soy como el río
Llego cantando
Y sin que nadie lo sepa, viday
Me voy llorando.
Es mi destino,
Piedra y camino
De un sueño lejano y bello, viday
Soy peregrino.
domingo, 25 de novembro de 2007
The Iron Lady
Em países que prezam a democracia, como o nosso vai tentando, há coisas assim. Não sei quanto falta para lá chegarmos. Mas se calhar nem é necessária.
A cadeira.
Have you seen the iron lady's charms
Legs of steel, leather on her arms
Taking on a man to die
A life for a life, an eye for an eye
And death's the iron lady in the chair
Stop the murder, deter the crimes away
Only killing shows that killing doesn't pay
Yes that's the kind of law it takes
Even though we make mistakes
And sometimes send the wrong man to the chair
In the death row waiting for their turn
No time to change, not a chance to learn
Waiting for someone to call
Say it's over after all
They won't have to face the justice of the chair
Just before they serve him one last meal
Shave his head, they ask him how he feels
Then the warden comes to say goodbye
Reporters come to watch him die
Watch him as he's strapped into the chair
And the chaplain, he reads the final prayer
Be brave my son, the Lord is waiting there
Oh murder is so wrong you see
Both the Bible and the courts agree
That the state's allowed to murder in the chair
In the courtroom, watch the balance of the scales
If the price is right, there's time for more appeals
The strings are pulled, the switch is stayed
The finest lawyers fees are paid
And a rich man never died upon the chair
Have you seen the iron lady's charms
Legs of steel, leather on her arms
Taking on a man to die
A life for a life, an eye for an eye
That's the iron lady in the chair
sábado, 10 de novembro de 2007
My Country 'Tis of Thy People You're Dying
Como era possível expor tanta violência contra a supremacia branca para tantas pessoas? Sim, era na televisão. Pública. Hoje isso é possível?
Buffy Sainte-Marie foi uma das cantoras de folk mais importantes surgidas na década de sessenta. Contudo, hoje é completamente desconhecida.
Aquela voz, trémula e amargurada, é inconfundível e faz sofrer. Hoje em dia, ouvir uma coisa assim, ar fresco que dói ao inspirar, dá arrepios.
O programa era de Pete Seeger (que um dia aparecerá também por cá) e nele ele falava com amigos que convidava para cantar a América marginalizada, a que não dá lucro e a que impede o lucro.
A letra é duríssima. Por isso tinha de ser longa. Não está traduzida. Mas se houver um amigo que não perceba a língua que nos domina os pensamentos e o quotidiano, penso que não ficará indiferente a esta voz e àquilo que ela comporta consigo.
Now that your big eyes have finally opened
Now that you're wondering how must they feel
Meaning them that you've chased across America's movie screens
Now that you're wondering how can it be real
That the ones you've called colorful, noble and proud
In your school propaganda
They starve in their splendor
You've asked for my comment I simply will render
My country 'tis of thy people you're dying
Now that the longhouses breathe superstition
You force us to send our toddlers away
To your schools where they're taught to despise their traditions
You forbid them their languages, then further say
That American history really began
When Columbus set sail out of Europe, then stress
That the nation of leeches that conquered this land
Are the biggest and bravest and boldest and best
And yet where in your history books is the tale
Of the genocide basic to this country's birth
Of the preachers who lied, how the Bill of Rights failed
How a nation of patriots returned to their earth
And where will it tell of the Liberty Bell
As it rang with a thud Over Kinzua mud
And of brave Uncle Sam in Alaska this year
My country 'tis of thy people you're dying
Hear how the bargain was made for the West
With her shivering children in zero degrees
Blankets for your land, so the treaties attest
Oh well, blankets for land is a bargain indeed
And the blankets were those Uncle Sam had collected
From smallpox-diseased dying soldiers that day
And the tribes were wiped out and the history books censored
A hundred years of your statesmen have felt it's better this way
And yet a few of the conquered have somehow survived
Their blood runs the redder though genes have paled
From the Gran Canyon's caverns to craven sad hills
The wounded, the losers, the robbed sing their tale
From Los Angeles County to upstate New York
The white nation fattens while others grow lean
Oh the tricked and evicted they know what I mean
My country 'tis of thy people you're dying
The past it just crumbled, the future just threatens
Our life blood shut up in your chemical tanks
And now here you come, bill of sale in your hands
And surprise in your eyes that we're lacking in thanks
For the blessings of civilization you've brought us
The lessons you've taught us, the ruin you've wrought us
Oh see what our trust in America's brought us
My country 'tis of thy people you're dying
Now that the pride of the sires receives charity
Now that we're harmless and safe behind laws
Now that my life's to be known as your "heritage"
Now that even the graves have been robbed
Now that our own chosen way is a novelty
Hands on our hearts we salute you your victory
Choke on your blue white and scarlet hypocrisy
Pitying the blindness that you've never seen
That the eagles of war whose wings lent you glory
They were never no more than carrion crows
Pushed the wrens from their nest, stole their eggs, changed their story
The mockingbird sings it, it's all that he knows
"Ah what can I do?" say a powerless few
With a lump in your throat and a tear in your eye
Can't you see that their poverty's profiting you?
My country 'tis of thy people you're dying
domingo, 4 de novembro de 2007
Palabras para Julia
Para hoje, da autoria de José Agustín Goytisolo, um belíssimo e triste poema, de esperança no futuro. E que nos diz que o amor e a luta vão juntos para mudar a sociedade. Canta o grande Paco Ibañez, de uma gravação do seu terceiro álbum, de 1969. Aqui vo-la deixo:
Tú no puedes volver atrás,
porque la vida ya te empuja,
como un aullido interminable, interminable.
Te sentirás acorralada,
te sentirás perdida y sola,
tal vez querrás no haber nacido, no haber nacido.
Pero tú siempre acuerdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti, pensando en ti
como ahora pienso.
La vida es bella ya verás
como a pesar de los pesares
tendrás amigos, tendrás amor, tendrás amigos.
Un hombre solo, una mujer,
así tomados, de uno en uno
son como polvo, no son nada, no son nada.
Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí,
pensando en ti, pensando en ti
como ahora pienso.
Nunca te entregues ni te apartes,
junto al camino, nunca digas:
no puedo más y aquí me quedo, y aquí me quedo.
Otros esperan que resistas,
que les ayude tu alegría,
que les ayude tu canción, entre sus canciones.
Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí,
pensando en ti, pensando en ti
como ahora pienso.
La vida es bella ya verás
como a pesar de los pesares
tendrás amigos, tendrás amor, tendrás amigos.
No sé decirte nada más
pero tú debes comprender
que yo aún estoy en el camino, en el camino.
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
La Mauvaise Réputation
Aqui fica a letra original (pessoalmente, prefiro a versão cantada pelo Paco, porque me parece mais acutilante e agressiva. Um dia, cá estará para a ouvirmos e reflectirmos).
Au village, sans prétention,
J'ai mauvaise réputation.
Qu'je m'démène ou qu'je reste coi
Je pass' pour un je-ne-sais-quoi!
Je ne fait pourtant de tort à personne
En suivant mon chemin de petit bonhomme.
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde médit de moi,
Sauf les muets, ça va de soi.
Le jour du Quatorze Juillet
Je reste dans mon lit douillet.
La musique qui marche au pas,
Cela ne me regarde pas.
Je ne fais pourtant de tort à personne,
En n'écoutant pas le clairon qui sonne.
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde me montre du doigt
Sauf les manchots, ça va de soi.
Quand j'croise un voleur malchanceux,
Poursuivi par un cul-terreux;
J'lance la patte et pourquoi le taire,
Le cul-terreux s'retrouv' par terre
Je ne fait pourtant de tort à personne,
En laissant courir les voleurs de pommes.
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde se rue sur moi,
Sauf les culs-de-jatte, ça va de soi.
Pas besoin d'être Jérémie,
Pour d'viner l'sort qui m'est promis,
S'ils trouv'nt une corde à leur goût,
Ils me la passeront au cou,
Je ne fait pourtant de tort à personne,
En suivant les ch'mins qui n'mènent pas à Rome,
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout l'mond' viendra me voir pendu,
Sauf les aveugles, bien entendu.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
domingo, 14 de outubro de 2007
Fala do Homem Nascido
Fala do Homem Nascido - José Niza (direcção), 1972 - Orfeu?
Bem, o amigo Samuel apareceu por cá, nos comentários, e acho que é uma oportunidade excelente para lhe pedir umas coisitas, tais como a sua discografia completa e alguns dados biográficos (que depois servirão para pôr no RYM).
Em escuta temos o tema homónimo, poema de António Gedeão, (como todos os outros temas do disco), musicado pelo José Niza. Pessoalmente, prefiro a versão do Adriano. Mas... como é que se pode concorrer com uma voz cristalina, terna, poderosa e meiga como aquela?
Fala do Homem Nascido
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar.
sábado, 29 de setembro de 2007
No Ens Parleu de Somnis
No ens parleu de somnis / Não nos faleis de sonhos
Ni de meravelles, / Nem de fantasias,
Som massa novells / Somos demasiado novos
I no us entendriem. / E não vos entenderíamos
Estalvieu els mots/ Poupai as palavras
Qui sap si més tard / Quem sabe se mais tarde
Es podran vendre. / Poderão ser vendidas.
No ens doneu la má / Não nos deis a mão
Ni oferiu ajuda / Nem ofereçais ajuda,
Som massa novells / Somos demasiado novos
I no us entendriem. / E não vos entenderíamos.
Feu allargar l'esforç / É preciso guardar a força
Qui sap si més tard / Quem sabe se mais tarde
Es podrà vendre. / Poderá ser vendida.
No canteu amb mi / Não canteis comigo
Ni ploreu pels altres / Nem choreis pelos outros,
Som massa novells / Somos demasiado novos
I no us entendriem. / E não vos entenderíamos.
Han canviat els temps, / Os tempos mudaram
Només val allò / Só vale o que
Que es podrà vendre / Se puder vender.
domingo, 23 de setembro de 2007
Ouvindo Beethoven
Acho que à canção de hoje pouco podemos acrescentar. Deixo apenas a crítica à reedição do disco "Pedra Filosofal", disco originalmente editado em 1970. A reedição, cuja capa aqui reproduzimos, de 1993, que foi apenas passado - directamente! - do vinil para cd. Não merecia. Nem o Manuel, nem o Saramago, autor deste poema, nem a cultura portuguesa.
Venham leis e homens de balanças
Mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças
Desça em nós o juízo até ao fundo.
Nos cruzamentos todos da cidade
A luz vermelha brilhe inquisidora
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura
A quantas mãos existam peçam dedos
Para sujar nas fichas dos arquivos
Não respeitem mistérios nem segredos
Que é natural os homens serem esquivos
Ponham livros de ponto em toda a parte
Relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
Que a prosa do registo, verso acta.
Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de ruir em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
The Ballad Of John Henry Faulk
Fiquemos então com esta poderosa letra sobre a opressão em tempos camaleónicos...
I'll tell you of his trials and the troubled trail he walked,
And I'll tell of the tyrants, the ones you never see:
Murder is the role they play and hatred is their fee.
On the TV and the radio John Henry Faulk was known.
He talked to many thousands with a mind that was his own,
But he could not close his eyes when the lists were passed around,
So he tried to move the Union to tear the blacklist down.
His friends they tried to warn him he was headin' for a fall.
If he spoke against the blacklist he had no chance at all,
But he laughed away their warnings and he laughed away their fears:
For how could lies destroy the work of many honest years?
Then slowly, oh so slowly, his life began to change.
People would avoid his eyes, his friends were actin' strange,
And he finally saw the power of the hidden poison pen
When they told him that his job was through, he'd never work again.
And he could not believe what his sad eyes had found.
He stared in disbelief as his world came tumblin' down,
And as the noose grew tighter, at last the trap was clear:
For every place he turned to go, that list would soon be there
-- Oh, that list.
And is there any bottom to the fears that grow inside?
Is there any bottom to the hate that you must hide?
And is there any end to your long road of despair?
Is there any end to the pain that you must bear?
His wife and children trembled, the time was runnin' short,
When a man of law got on their side and took them into court,
And there upon the stand they could not hide behind their lies,
And the cancer of the fascist was displayed before our eyes.
Hey, blacklist, you blacklist, I've seen what you have done.
I've seen the men you've ruined and the lives you've tried to run,
But the one thing that I've found is, the only ones you spare
Are those that do not have a brain, or those that do not care.
And you men who point your fingers and spread your lies around,
You men who left your souls behind and drag us to the ground,
You can put my name right down there, I will not try to hide --
For if there's one man on the blacklist, I'll be right there by his side.
For I'd rather go hungry to beg upon the streets
Than earn my bread on dead men's souls and crawl beneath your feet.
And I will not play your hater's game and hate you in return,
for it's only through the love of man the blacklist can be burned.
Senhor Marquês
O disco "Os Sobreviventes", de 1971, é um dos daquele incontornável ano para a música popular portuguesa, ao lado de "Cantigas do Maio", "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", "Gente de Aqui e de Agora", "Movimento Perpétuo" e (quanto a mim...) "Canções de Amor e Esperança". Ouçam-nos quanto antes.
Senhor Marquês
Do bairro da lata
está'gente farta
Senhor Marquês
e o nosso fim do mês?
Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta
"- Ó da guarda, ladrões
p'los meus brasões
ai meu Deus socorro!
Jesus qu'eu morro!"
grita o Marquês
ninguém vem desta vez
Venha por aqui ver isto
Senhor Ministro
que estes bandidos
uns mal-nascidos
'inda sem dentes
e já delinquentes
Meta aqui o nariz
Senhor Juiz
nós somos bandidos
ou mal-nascidos?
Senhor Ministro
perdoe s'insisto
Se nós somos ladrões
temos razões
que não são as suas
são minhas, tuas
e d'outros mais
de muitos, muitos mais.
Olhe pr'áqui uma vez
Senhor Marquês
Do bairro da lata
está'gente farta
Senhor Marquês
e o nosso fim do mês?
Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta
Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta
pr'ó nosso fim do mês
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
Eh Vizinho Porco
Poema do grande José Gomes Ferreira musicado pelo vimaranense e muito esquecido (nestas alturas, desconhecido) José Almada. Hoje, dia 6 de Setembro, José de Almada Guedes Machado faz 56 anos. Onde andas, José? É assim que te prestamos homenagem.
Eh vizinho porco
todo o dia de borco
a fuçar na terra
onde nasceu
E assim o aldeão
a sua lição
de pensar menos no céu
e mais no chão.
Na terra, camponês,
também há estrelas,
que tu não vês,
mas hás-de vê-las.
sábado, 25 de agosto de 2007
Sei que me Esperas
Contra a Ideia da Violência, a Violência da Ideia (1973)
O blogue A Cantiga foi uma Arma não tem o objectivo dos média: fazer tábua rasa do passado, na busca da desmemória completa e da desorientação que nos leva ao alheamento que nos põe a "funcionar mesmo bem".
Por isso, hoje temos por cá o Luís Cília. Se os média já o desprezam, porque haveríamos ter comportamento semelhante?
Sei que me esperas
Sei que me esperas lutas e confias
na minha voz subterrânea de combate
na força dos meus gritos de rebate
na coragem das minhas agonias
Sei que me esperas nas ruas ou vielas,
nas aldeias, no mar ou nas cidades,
em todos os lugares em que haja celas,
olhos petrificados de ansiedades
Anda comigo, vou falar da esperança
da vida que ainda agora principia
Perde essa amarga e vã desconfiança
toma a minha mão de amigo e confia
Anda comigo, eu canto as tuas dores
sou mais poeta sendo teu irmão
nesta densa floresta sem flores
o sangue e a alma são o mesmo pão
Quando as verdades forem as que amamos
no silêncio do nosso pensamento
e a força que nos guia o movimento
ganhar a paz que tanto desejamos
Quando rufarem todos os tambores
Anunciando a grande cavalgada
e os heróis coroados de flores
cantarem a vitória desejada
Vamos colher o trigo semeado
cantar a vida pelos campos fora
A pouco e pouco vai nascer a aurora
e é muito urgente estarmos lado a lado
domingo, 19 de agosto de 2007
Cantiga para Quem Sonha
Para hoje, um grande cantor - talvez o maior cantor de fado de Coimbra vivo: Luís Goes. Esta "Cantiga para Quem Sonha" está incluída no seu álbum "Canções de Amor e Esperança", de 1971. Trata-se de uma bela melodia. Será que já não se conseguem fazer canções assim?
Tu que tens dez reis de esperança e de amor
grita bem alto que queres viver.
Compra pão e vinho, mas rouba uma flor.
Tudo o que é belo não é de vender
Não vendem ondas do mar
nem brisa ou estrelas, só a lua cheia
Não vendem moças de amar
nem certas janelas em dunas de areia.
Canta, canta como uma ave ou um rio
Dá o teu braço aos que querem sonhar
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.
Tu que crês num mundo maior e melhor
grita bem alto que o céu está aqui.
Tu que vês irmãos, só irmãos em redor,
Crê que esse mundo começa por ti.
Traz uma viola, um poema,
um passo de dança, um sonho maduro.
Canta glosando este tema,
Em cada criança há um homem puro.
Canta, canta como uma ave ou um rio
Dá o teu braço aos que querem sonhar
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.
domingo, 12 de agosto de 2007
Tourada
Grande, heróico e satírico poema de José Carlos Ary dos Santos interpretado pelo seu grande amigo Fernando Tordo.
Tourada
Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.
Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.
Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.
Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...
Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.
E diz o inteligente
que acabaram as canções.
domingo, 5 de agosto de 2007
Què volen aquesta gent?
Baseada em factos reais e frequentes, este texto de Lluís Serrahima musicado pela maiorquina María del Mar Bonet, uma das maiores vozes femininas de todos os tempos na música folk, descreve as incursões nocturnas da polícia política, irrompendo casas adentro, num clima de terror que também por cá muitos sentiram. O estudante lança-se da janela para escapar à tortura.
De matinada han trucat, / De madrugada bateram (à porta)
són al replà de l'escala; / Estão no começo das escadas
la mare quan surt a obrir / A mãe quando vai abrir
porta la bata posada. / Está de roupão
Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?
"El seu fill, que no és aquí?" / "O seu filho, não está aqui?"
"N'és adormit a la cambra. / "Está a dormir na cama.
Què li volen al meu fill?" / Que querem do meu filho?"
El fill mig es desvetllava. / O filho acordava.
Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?
La mare ben poc en sap, / A mãe sabe muito pouco
de totes les esperances / de todas as aspirações
del seu fill estudiant, / do seu filho estudante
que ben compromès n'estava. / Que tão comprometido estava
Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?
Dies fa que parla poc / Faz dias que fala pouco
i cada nit s'agitava. / E cada dia estremecia
Li venia un tremolor / Vinha-lhe um tremor
tement un truc a trenc d'alba. / Temendo uma chamada ao romper d'alvorada.
Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?
Encara no ben despert / Ainda não completamente desperto
ja sent viva la trucada, / Já sente bem forte a batida
i es llença pel finestral, / E lança-se pela janela
a l'asfalt d'una volada. / Ao asfalto de um voo.
Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?
Els que truquen resten muts, / Os que batem permanecem calados
menys un d'ells, potser el que mana, / Menos um deles, talvez o que manda,
que s'inclina pel finestral. / Que se inclina da janela.
Darrere xiscla la mare. / Atrás a mãe grita.
Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?
De matinada han trucat, / De madrugada bateram
la llei una hora assenyala. / A hora assinala a lei.
Ara l'estudiant és mort, / Agora o estudante está morto,
n'és mort d'un truc a trenc d'alba. / Morreu de uma batida ao romper d'alvorada.
Què volen aquesta gent / Que quer esta gente
que truquen de matinada? / Que bate à porta de madrugada?
sábado, 28 de julho de 2007
Te recuerdo, Amanda
Um tema em que o amor e a luta se unem. Em 1974, Raimon gravou-a em catalão, no seu disco "A Victor Jara".
Te recuerdo, Amanda, / Et recorde Amanda
la calle mojada, / els carrers mullant-se
corriendo a la fábrica / anant a la fàbrica
donde trabajaba Manuel. / allà on treballava Manuel.
La sonrisa ancha, / El somriure ample
la lluvia en el pelo, / la pluja a la cara
no importaba nada, / res no t'importava
ibas a encontarte con él. / perquè et trobaries
Con él, con él, con él, con él. / Amb ell, amb ell, amb ell.
Son cinco minutos. / Només una estona,
La vida es eterna en cinco minutos. / la vida és eterna en aquesta estona.
Suena la sirena. / Sona la sirena.
De vuelta al trabajo / Torna a la faena
y tœ caminando lo iluminas todo, / i tu caminaves tot ho il·luminaves
los cinco minutos te hacen florecer. / i la curta estona et va fer florir.
Te recuerdo, Amanda, / Et recorde Amanda
la calle mojada, / els carrers mullant-se
corriendo a la fábrica / anant a la fàbrica
donde trabajaba Manuel. / allà on treballava Manuel.
La sonrisa ancha, / El somriure ample
la lluvia en el pelo, / la pluja a la cara
no importaba nada, / res no t'importava
ibas a encontarte con él. / perquè et trobaries
Con él, con él, con él, con él. / Amb ell, amb ell, amb ell.
que partió a la sierra, / que marxà a la serra
que nunca hizo daño. / que gens de mal feia.
Que partió a la sierra, / que marxà a la serra,
y en cinco minutos quedó destrozado. / i en ben poca estona ells el destrossaren
Suena la sirena, / Sona la sirena
de vuelta al trabajo / torna a la faena,
muchos no volvieron, / molts no tornaren,
tampoco Manuel. / tampoc el Manuel.
Te recuerdo, Amanda, / Et recorde Amanda
la calle mojada, / els carrers mullant-se
corriendo a la fábrica / anant a la fàbrica
donde trabajaba Manuel. / allà on treballava Manuel.
domingo, 22 de julho de 2007
Canção da Cidade Nova
Esta canção, tão triste e tão bonita ao mesmo tempo, é daquelas que dificilmente nos deixam apáticos. Da autoria de Fernando Melro, baseada na Bíblia, vem para nos reafirmar que a esperança será sempre um fiel companheiro na luta pela liberdade e pela justiça. Está incluída no único álbum de Francisco Fanhais, que ainda hoje a canta, com a mesma frescura de voz e actualidade do tema que tinha quando a registou.
Ó navegante do mar do medo
Ouve um instante o meu segredo,
Ó caminhante da noite fria
Ouve um instante minha alegria:
Ao longe longe já aparece
Uma cidade que resplandece
Ao longe longe o sol já vem
Eu já alcanço Jerusalém.
Virá o pobre do mundo inteiro
Há pão que sobre e sem dinheiro
Há pão e vinho em abundância
E o seu caminho é sem distância
Não tem distância esta cidade
Senão o medo que nos invade
Cantai comigo que o sol já vem
Eu já alcanço Jerusalém
Se o mundo cança de tanta guerra
Uma criança nasceu na terra
Um dia novo ela nos traz
Dará ao povo a flor da paz
Surgi depressa que não é cedo
Cantai comigo irmãos do medo
Cantai comigo que o sol já vem
Eu já alcanço Jerusalém
Hoje um menino venceu a morte
Nasceu franzino mas é Deus forte
Será chamado Emanuel
E sustentado de leite e mel
De longe chegam os povos
Vindo à procura de tempos novos
Cantai comigo que o sol já vem
Eu já alcanço Jerusalém
sábado, 14 de julho de 2007
La poesía es un arma cargada de futuro
Gabriel Celaya verteu-o assim, em 1955, num tempo de acordar. Paco Ibañez, talvez o maior trovador vivo, musicou o poema e gravou-o em 1967, logo a começar o seu segundo álbum.
Penso que não é preciso traduzir, pois a sua grande riqueza poética é visceral - não precisa de traduções.
Cuando ya nada se espera personalmente exaltante,
más se palpita y se sigue más acá de la conciencia,
fieramente existiendo, ciegamente afirmando,
como un pulso que golpea las tinieblas,
que golpea las tinieblas.
Cuando se miran de frente
los vertiginosos ojos claros de la muerte,
se dicen las verdades;
las bárbaras, terribles, amorosas crueldades,
amorosas crueldades.
Poesía para el pobre, poesía necesaria
como el pan de cada día,
como el aire que exigimos trece veces por minuto,
para ser y en tanto somos, dar un sí que glorifica.
Porque vivimos a golpes, porque apenas si nos dejan
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un adorno.
Estamos tocando el fondo, estamos tocando el fondo.
Maldigo la poesía concebida como un lujo,
cultural por los neutrales, que lavándose las manos
se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no toma partido,
partido hasta mancharse.
Hago mías las faltas. Siento en mí a cuantos sufren.
Y canto respirando. Canto y canto y cantando
más allá de mis penas,
de mis penas personales, me ensancho,
me ensancho.
Quiero daros vida, provocar nuevos actos,
y calculo por eso, con técnica, que puedo.
Me siento un ingeniero del verso y un obrero
que trabaja con otros a España,
a España en sus aceros.
No es una poesía gota a gota pensada.
No es un bello producto. No es un fruto perfecto.
Es lo más necesario: lo que no tiene nombre.
Son gritos en el cielo, y en la tierra son actos.
Porque vivimos a golpes, porque apenas si nos dejan
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un adorno.
Estamos tocando el fondo, estamos tocando el fondo.
sábado, 7 de julho de 2007
Prá Não Dizer que Não Falei das Flores (Caminhando)
Geraldo Vandré tem uma canção que é um sempiterno hino pacifista. Esta canção foi primeiramente gravada no Estádio do Maracanã, em 1968 (mas proibida pelo regime, pelo que só foi editada 12 anos mais tarde). Francisco Fanhais chegou a gravá-la ao vivo, no disco República (disco conjunto com José Afonso editado apenas em Itália, dificílimo de encontrar).
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais braços dados ou não,
Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Caminhando e cantado e seguindo a canção
[refrão]
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,
Pelos campos há fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão.
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,
Há soldados armados, amados ou não,
Quase todos perdidos de armas na mão,
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
De morrer pela pátria e viver sem razão,
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,
Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Somos todos soldados, armados ou não,
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais, braços dados ou não.
Os amores na mente, as flores no chão,
A certeza na frente, a história na mão,
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Aprendendo e ensinando uma nova lição:
Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
sábado, 30 de junho de 2007
Dona Abastança
O disco "Que Nunca Mais", com produção e arranjos de Fausto e poemas do escitor alentejano Manuel da Fonseca, foi lançado em 1975, expressando ainda a opressão do 24 de Abril. A hiprocisia, essa, continua.
"(...) a caridade, que para nós, por uso que as senhoras piedosas têm feito da palavra, tomou um significado muito diferente daquele que a palavra tem. Ter caridade para com uma pessoa não significa, como em geral pensam as pessoas, ajudá-la a viver com aquilo que nos sobra a nós. Caridade significa ver no outro a graça, charis, que está oculta pela sua miséria, pela sua falta de educação, pela sua deformidade física mesmo. O homem caridoso com o aleijado é aquele que vê nele a graça que podia tê-lo feito um magnífico atleta, se a sua sorte ou se as suas condições de vida não o tivessem levado a ser apenas um fragmento de gente. E o homem que vê no miserável, no desgraçado que pede esmola ou naquele que leva uma vida miserável, a charis interior, a graça com que ele nasceu e que perdeu vivendo - isso é que é a caridade."
Agostinho da Silva, in Vida Conversável (Ed. Assírio e Alvim, 1994)
"A caridade é amor"
Proclama Dona Abastança,
Esposa de um comendador,
Senhor da alta finança
Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns
A outros, nada
"Dar a todos não se pode!"
Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado
[refrão x2]
Já se deixa ver
que não pode ser
Quem dá o que tem
Um dia há-de vir bem
O bem da bolsa lhes sai
Sai caro fazer o bem
Ela dá, ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele (...) lá vai
Com o que tira a quem roubou
Fazendo mais e mais pobres
Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado
Ao engano sempre novo
De tão estranha caridade
Pôr o dinheiro do povo
Contra o povo da cidade
sábado, 16 de junho de 2007
La Matança del Porc
Para hoje, uma canção duríssima. Dura mas engraçada. O que se descreve é uma prática muito nossa conhecida. Mas para o que se alude é para outra coisa. Escrita para o álbum "Triat i Garbellat", de 1971, por um dos meus cantores catalães preferidos. O seu nome é Pi de la Serra e as suas letras são do melhor que há em ironia e causticidade. Desde 62 a gravar, lançou há semanas o seu último disco, "Tot".
Avui és la diada de matar el porc / Hoje é dia de matar o porco
que em anat engreixant des de fa massa anys / Que temos vindo a engordar há já muitos anos
amb llet de la més bona, amb tomaquets de l'hort, / Com leite do melhor, com tomates da horta,
amb la millor farina, patates i ous. / Com a melhor farinha, batatas e ovos.
La porca està trista i nosaltres contents, / A porca está triste e nós contentes,
ja no passarem gana per un quant temps, / Já não passaremos fome por algum tempo,
ja no passarem gana per un quant temps. / Já não passaremos fome por algum tempo.
Poseu-hi unes graelles i un bon suport, / Ponde umas grelhas e um bom suporte
feu una gran foguera d'alzina i pi, / Fazei uma grande fogueira de azinheira e pinho,
rustiu-lo i xisclarà, senyal que no és ben mort, / Queimai-o e guinchará, sinal de que ainda não está bem morto,
afanyeu-se que bufa vent de garbí. / Assegurai-vos que sopre vento de sudoeste.
Quan no li quedi un pèl, feu-li un gran tall al coll, / Quando não lhe restar um pêlo, dai-lhe um grande golpe no pescoço,
i amb la sang que li ragi n'ompliu un doll, / e com o sangue que jorrar enchei (uma malga?),
i amb la sang que li ragi n'ompliu un doll. / e com o sangue que jorrar enchei (...)
Puix ja de panxa en l'aire el col·loqueu, / Então, colocai-o de pança prò ar,
amb la daga més fina obriu-lo en canal, / Com a faca mais afiada abri-lhe em rego,
netegeu-li els budells i tot el que hi trobeu, / Limpai-o dos miúdos e de tudo o que encontrardes
talleu la carn rosada i poseu-la en sal. / Cortai a carne rósea e ponde-lhe sal.
La porca està plorant, nosaltres rient, / A porca está a chorar, e nós a rir
ens menjarem la llengua del seu parent, / Vamos comer a língua do seu companheiro,
ens menjarem la llengua del seu parent. / Vamos comer a língua do seu companheiro.
Demà hi haurà bon tall, s'ha acabat la fam, / Amanhã haverá boa carne, acabou-se a fome,
demà passat fuet i després pernil, / Amanhã será chouriço depois presunto,
i quan s'acabi el porc hi passarà la porca / E quando se acabar o porco, será a vez da porca
i després els garrins i tots els porcs del món. / E depois os leitõezinhos e todos os porcos do mundo.
Avui és la diada de matar el porc. / Hoje é o dia de matar o porco.
És la diada de matar el porc. / É o dia de matar o porco.
Matar el porc. / Matar o porco.
sábado, 9 de junho de 2007
Tiro-no-Liro
Para hoje, proponho a todos que meditemos numa das mais lúcidas, bem conseguidas e aparentemente inocentes letras escritas na língua de José Afonso. É a canção Tiro-no-Liro, da autoria do grande José Mário Branco. Encontra-se no álbum de 85, "A Noite".
Reparem só na quantidade de trocadilhos e assonâncias! Isto, sim, é dar-nos uma lição de língua! A nós, que a vamos descarnando quotidianamente...
Na zoologia do fala-só
Há muitos animais de tiro
Há o tiro-liro-liro e não só
Também o tiro-liro-ló.
Seja no liro-liro ou liro-ló
O tiro-liro leva tiro
Que é o mesmo que três liros e um ló
Feridos por um tiro só
(refrão)
Quem dá o tiro no liro
Vai prò chilindró
Quem dá o tiro no ló
Anda de pó-pó
Lá em cima está o tiro-liro-liro
Cá em baixo o tiro-liro-ló
Mas o liro que eu prefiro é o ló
Que ao liro-liro tira o tiro
Pois enquanto o ló transpira no pó
O liro tira o pão do ló
Há-de vir o dia em que o liro-ló
Será igual ao liro-liro
Com a concertina e o sol-e-dó
Unidos por um tiro só
segunda-feira, 4 de junho de 2007
sábado, 2 de junho de 2007
El Cobarde
Um desses temas é, então, "El Cobarde", cuja letra vos deixo.
El Cobarde
Vivo en mi pueblo pequeño
Le fé, la alegría, la paz del hogar,
hay una niña morena
que tras el trabajo me llena de paz,
Hay una ermita en el monte
que todas las tardes escucho cantar
y aquel arroyo tan claro
que riega los campos que son nuestro pan.
Era la tarde un suspiro
y aquellos soldados llegaron acá
“Quietos los niños y viejos.
La gente más joven tendrá que luchar!”
Tiembla el fusil en mi mano
cerrando los ojos disparo al azar
Bala perdida que mata
a cualquier inocente con ansia de paz.
¿Por quién lucho yo
Si en mi corta vida no existe el rencor?
¿Por quién lucho yo
Que vivo la vida con fé y con amor?
Juan, debes de callar!
Esto es una guerra no lo has de olvidar.
Juan, trata de olvidar
aquella muchacha, la paz del hogar.
Llegan los años de cárcel
yo soy un cobarde, no quiero matar.
Dicen que nuestros soldados
ganaron la guerra, renace la paz
Vuelvo a mi pueblo pequeño
la gente sonrie, murmura al pasar
“Mira aquel joven cobarde
que vuelve la espalda en vez de luchar”
Dejo con pena las cosas
Que fui levantando y solo sin más
Vivo aquí arriba en el monte
soñando que un día pueda regresar.
sábado, 26 de maio de 2007
Abril 74
Enquanto em Espanha ainda se penava, os que podiam vinham a Portugal respirar.
Lluís Llach, importantíssimo cantor catalão, foi um deles.
Em Lisboa, compôs esta canção:
Abril 74
Companys, / Companheiros,
si sabeu on dorm la lluna blanca, / se sabeis onde dorme a nuvem branca
digueu-li que la vull / Dizei-lhe que a quero
però no puc anar a estimar-la, / Mas não posso ir amá-la
que encara hi ha combat. / Porque aqui ainda há combate.
Companys, / Companheiros,
si coneixeu el cau de la sirena, / se conheceis o canto da sereia,
allà enmig de la mar, / Lá, no meio do mar
jo l'aniria a veure, / Eu iria vê-la
però encara hi ha combat. / Mas aqui ainda há combate.
I si un trist atzar m'atura i caic a terra, / E se um triste azar me barra e caio por terra
porteu tots els meus cants / Levai todos os meus cantos
i un ram de flors vermelles / E um ramo de flores vermelhas
a qui tant he estimat, / A quem tanto amei,
si guanyem el combat. / Se ganharmos o combate.
Companys, / Companheiros,
si enyoreu les primaveres lliures, / se desejais as primaveras livres
amb vosaltres vull anar, / Quero ir convosco
que per poder-les viure / Que para poder vivê-las
jo me n'he fet soldat. / Me fiz soldado.
I si un trist atzar m'atura i caic a terra, / E se um triste azar me barra e caio por terra
porteu tots els meus cants / Levai todos os meus cantos
i un ram de flors vermelles / E um ramo de flores vermelhas
a qui tant he estimat, / A quem tanto amei,
quan guanyem el combat. / Quando ganharmos o combate.
segunda-feira, 7 de maio de 2007
Poetas Andaluces
Poema de um Andaluz, Rafael Alberti, interpretado pelo por cá muito conhecido grupo Aguaviva.
¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?
Cantan con voz de hombre, ¿pero donde están los hombres?
con ojos de hombre miran, ¿pero donde los hombres?
con pecho de hombre sienten, ¿pero donde los hombres?
Cantan, y cuando cantan parece que están solos.
Miran, y cuando miran parece que están solos.
Sienten, y cuando sienten parecen que están solos.
¿Es que ya Andalucia se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿Qué en los mares y campos andaluces no hay nadie?
¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quién mire al corazón sin muros del poeta?
¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?
Cantad alto. Oireis que oyen otros oidos.
Mirad alto. Veréis que miran otros ojos.
Latid alto. Sabreis que palpita otra sangre.
No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo.
encerrado. su canto asciende a más profundo
cuando, abierto en el aire, ya es de todos los hombres.
terça-feira, 24 de abril de 2007
sexta-feira, 20 de abril de 2007
A Cantiga é Uma Arma
GAC - Grupo de Acção Cultural
letra e música: José Mário Branco
a cantiga é uma arma - 1975
quinta-feira, 19 de abril de 2007
Eu vi Este Povo a Lutar
José Mário Branco
ser solidário - 1982
(esta é a versão final da música Hino da Confederação, que consta da banda sonora do filme A Confederação [Luís Galvão Teles - 1978].
Esta banda sonora é assinada por Fausto, Sérgio Godinho e José Mário Branco)