sábado, 9 de junho de 2007

Tiro-no-Liro

Para hoje, proponho a todos que meditemos numa das mais lúcidas, bem conseguidas e aparentemente inocentes letras escritas na língua de José Afonso. É a canção Tiro-no-Liro, da autoria do grande José Mário Branco. Encontra-se no álbum de 85, "A Noite".


Reparem só na quantidade de trocadilhos e assonâncias! Isto, sim, é dar-nos uma lição de língua! A nós, que a vamos descarnando quotidianamente...



Na zoologia do fala-só
Há muitos animais de tiro
Há o tiro-liro-liro e não só
Também o tiro-liro-ló.

Seja no liro-liro ou liro-ló
O tiro-liro leva tiro
Que é o mesmo que três liros e um ló
Feridos por um tiro só

(refrão)
Quem dá o tiro no liro
Vai prò chilindró
Quem dá o tiro no ló
Anda de pó-pó

Lá em cima está o tiro-liro-liro
Cá em baixo o tiro-liro-ló

Mas o liro que eu prefiro é o ló
Que ao liro-liro tira o tiro
Pois enquanto o ló transpira no pó
O liro tira o pão do ló

Há-de vir o dia em que o liro-ló
Será igual ao liro-liro
Com a concertina e o sol-e-dó
Unidos por um tiro só

1 comentário:

António Pires disse...

É um poema genial, de facto! E que, no meio das suas aliterações, transmite uma mensagem clara. É a «arma» de José Mário!