Acho que à canção de hoje pouco podemos acrescentar. Deixo apenas a crítica à reedição do disco "Pedra Filosofal", disco originalmente editado em 1970. A reedição, cuja capa aqui reproduzimos, de 1993, que foi apenas passado - directamente! - do vinil para cd. Não merecia. Nem o Manuel, nem o Saramago, autor deste poema, nem a cultura portuguesa.
Venham leis e homens de balanças
Mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças
Desça em nós o juízo até ao fundo.
Nos cruzamentos todos da cidade
A luz vermelha brilhe inquisidora
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura
A quantas mãos existam peçam dedos
Para sujar nas fichas dos arquivos
Não respeitem mistérios nem segredos
Que é natural os homens serem esquivos
Ponham livros de ponto em toda a parte
Relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
Que a prosa do registo, verso acta.
Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de ruir em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
2 comentários:
BOA TARDE.
JOSÉ SARAMAGO, COMO BOM COMUNISTA DEIXOU CLARO NESTE POEMA, SEU DESCONTAMENTO COM O PÉRFIDO MUNDO.
ONDE ESTIVERES JOSÉ, LEMBRAREI DE TI.
ADELSON
"E chegará o dia das surpresas!"
Obrigado, amigo Adelson.
Abraço desde Braga.
:)
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