Pi de la Serra e Ovidi Montllor partilharam com Raimon muitos recitais e com o primeiro, sobretudo, travou uma grande amizade, que se materializou noutros aspectos para lá de partilhar muitos cartazes: Raimon escreveu o prólogo do livro de canções de Quico e a letra de um tema, "Bon temps per a fer cançons", assinada com o pseudónimo "Ramon Xiquet". É um facto invulgar que Raimon escreva para outro, o que acrescenta valor ao texto. Fê-la assim, sob a epígrafe "Letra escrita, à maneira de Pi de la Serra, no dia 25 de Janeiro de 1969".
[A canção é de uma simplicidade de génio! Uma nota em relação ao idioma catalão, pautado por muitos monossílabos e - como já tiveram oportunidade de ouvir - uma sonoridade muito portuguesa. Menciono isto - em jeito de regresso às lides, para não entrar logo a quente - porque a tradução pode ser necessária aqui ou ali. Virá após a letra original, então, para tirar uma ou outra dúvida com que fiquem. Como não podia deixar de ser, o refrão (ou espécie de...) é a melhor demonstração das possibilidades da língua, dos monossílabos e - neste caso - da comunicação da mensagem escondida. ]
[A 17ª canção de Raimon na caixa de música, cantada e interpretada portanto por Pi de la Serra, "Bon temps per a fer cançons", é a original, extraída do excelente álbum Triat i Garbellat, de 1971]
Sembla que és ara bon temps
per escriure una cançó
que parlarà dels dos,
que parlarà de molts.
Una cançó que ens diga
que avui la pluja és antiga,
una cançó d'amor
- és de mal gust el dolor.
Una cançó tan pura
que pugui passar per dura.
La cançó us la vaig a dir
sense disparar cap tir.
Avui el cel és molt gris,
bon dia per a fer-se el trist.
Plou poc, però pel poc que plou, plou prou.
La ràdio diu: demà sol,
i quan ella ho diu, fa sol.
La gent va al seu treball,
sols arribar els ve un badall.
Qui pot fa la viu-viu
com a mínim fins a l'estiu.
Bon temps per a fer cançons
que ens parlin de les passions,
de les passions que desvetlla
un lluent cul de botell.
I perquè no m'avorriu
callaré sens dir ni piu,
com a mínim fins a l'estiu.
Plou poc, però pel poc que plou, plou prou...
/
Parece que este é um tempo bom
para escrever uma canção
que falará dos dois,
que falará de muitos.
Uma canção que nos diga
que hoje a chuva é antiga,
uma canção de amor
- a dor é de mau gosto.
Uma canção tão pura
que possa passar por dura.
A canção vou dizer
sem disparar qualquer tiro.
Hoje o céu está muito cinzento,
bom dia para ficar triste.
Chove pouco, mas para o pouco que chove, chove demais.
A rádio diz: amanhã sol,
e se ela o diz, há sol.
A gente vai para o seu trabalho,
só o chegar já enche.
O que pode vai vivendo
pelo menos até ao Verão.
Bom tempo para escrever canções
que nos falem de paixões,
das paixões que desperta
o cu brilhante da garrafa.
E para que não vos aborreça
vou me calar sem dar um pio,
pelo menos até ao Verão.
Chove pouco, mas para o pouco que chove, chove demais...
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