quinta-feira, 11 de setembro de 2008

VI - En tu estime el món - (III)

Fica, daqueles dias longos, um testemunho de fora da vida artística, o de Artur Sagués, que então estava em Xábia a gerir um restaurante. Artur tinha cuidado (...) com Annalisa e procurava manter um equilíbrio entre a boa cozinha, a cozinha surpreendente e a cozinha de regime. Artur lembra aqueles dias em Xàbia, em que os Raimons iam jantar ao seu restaurante. Os Raimons também estimam Artur de uma maneira especial, e têm seguido o seu percurso de incansável andarilho da gastronomia.

Nos momentos mais complicados , quando a incerteza se juntava ao próprio mal-estar corporal, Raimon tomou partido em três recitais no Palau de la Música. Naquela convocatória, Raimon cantou "Com un puny", a canção em que Annalisa é retratada mais intimamente. A emoção impediu que o último agudo, no qual a canção pára, chegasse sem se desenhar. Fechou o punho erguido como sempre faz ao acabar esta canção e encaminhou-se ao camarim porque aquela emoção se condensara.

[Eis "Com un puny", a 19 canção de Raimon na caixa de música. É a versão que gravou no disco homónimo dos 40 anos do primeiro concerto no Olympia]


Quan tu te'n vas al teu país d'Itàlia /
Quando te vais para Itália

i jo ben sol em quede a Maragall, /

E eu, sozinho, fico em Maragall,

aquest carrer que mai no ens ha fet gràcia /

Esta rua que nunca nos fez rir

se'm torna el lloc d'un gris inútil ball. /

Torna-se-me num lugar cinzento de uma dança inútil.


Ausiàs March em ve a la memòria, /

Ausiàs March vem-me à memória,

el seu vell cant, de cop, se m'aclareix, /

o seu velho canto, de repente, torna-se-me claro,

a casa, sol, immers en la cabòria /

em casa, sozinho, imerso na preocupação

del meu desig de tu que és gran i creix: /

do meu desejo de ti, que é grande e cresce:


"Plagués a déu que mon pensar fos mort

E que passàs ma vida en dorment". /

"Quisesse deus que o meu pensar estivesse morto

E que passasse a minha vida a dormir."


Entenc molt bé, desgraciada sort, /

Percebo muito bem, infeliz sorte,

l'última arrel d'aquest trist pensament, /

a última raíz deste triste pensamento,

el seu perquè atàvic, jove, fort

jo sent en mi, corprès, profundament. /

sinto profundamente em mim

o seu porquê atávico, jovem, forte.


Al llit tan gran d'italiana mida /

Na cama de medida tão italiana
passe les nits sentint la teua absència, /
passo as noites sentindo a tua ausência

no dorm qui vol ni és d'oblit la vida, /

Não dorme quem quer nem a vida é de esquecimento,

amor, amor, és dura la sentència. /

amor, amor, é pesada a pena.


Quan tu te'n vas al teu país d'Itàlia /

Quando te vais para Itália

el dolor ve a fer-me companyia, /

a dor vem fazer-me companhia

i no se'n va, que creix en sa llargària, /

e crescendo não me deixa,

despert de nit somou, somort, de dia. /
acordada de noite e presente de dia.

Em passa això i tantes altres coses /

Acontece-me isso e tantas outras coisas

sentint-me sol que és sentir-te lluny; /

sentindo-me só que é sentir-te longe;

ho veig molt clar quan fa ja cent vint hores /

vejo-o claramente quando já passaram cento e vinte horas

que compte el temps que lentament s'esmuny. /

que conto o tempo que lentamente se desliza.


Vindrà el teu cos que suaument em poses /

Virá o teu corpo que suavemente pousas

en el meu cos quan ens sentim ben junts, /

no meu corpo quando nos sentimos bem juntos,

i floriran millor que mai les roses: /

e florirão melhor que nunca as rosas:

a poc a poc ens clourem com un puny. /

a pouco e pouco nos fecharemos como um punho.

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