Fica, daqueles dias longos, um testemunho de fora da vida artística, o de Artur Sagués, que então estava em Xábia a gerir um restaurante. Artur tinha cuidado (...) com Annalisa e procurava manter um equilíbrio entre a boa cozinha, a cozinha surpreendente e a cozinha de regime. Artur lembra aqueles dias em Xàbia, em que os Raimons iam jantar ao seu restaurante. Os Raimons também estimam Artur de uma maneira especial, e têm seguido o seu percurso de incansável andarilho da gastronomia.
Nos momentos mais complicados , quando a incerteza se juntava ao próprio mal-estar corporal, Raimon tomou partido em três recitais no Palau de la Música. Naquela convocatória, Raimon cantou "Com un puny", a canção em que Annalisa é retratada mais intimamente. A emoção impediu que o último agudo, no qual a canção pára, chegasse sem se desenhar. Fechou o punho erguido como sempre faz ao acabar esta canção e encaminhou-se ao camarim porque aquela emoção se condensara.
[Eis "Com un puny", a 19 canção de Raimon na caixa de música. É a versão que gravou no disco homónimo dos 40 anos do primeiro concerto no Olympia]
Quan tu te'n vas al teu país d'Itàlia /
Quando te vais para Itália
i jo ben sol em quede a Maragall, /
E eu, sozinho, fico em Maragall,
aquest carrer que mai no ens ha fet gràcia /
Esta rua que nunca nos fez rir
se'm torna el lloc d'un gris inútil ball. /
Torna-se-me num lugar cinzento de uma dança inútil.
Ausiàs March em ve a la memòria, /
Ausiàs March vem-me à memória,
el seu vell cant, de cop, se m'aclareix, /
o seu velho canto, de repente, torna-se-me claro,
a casa, sol, immers en la cabòria /
em casa, sozinho, imerso na preocupação
del meu desig de tu que és gran i creix: /
do meu desejo de ti, que é grande e cresce:
"Plagués a déu que mon pensar fos mort
E que passàs ma vida en dorment". /
"Quisesse deus que o meu pensar estivesse morto
E que passasse a minha vida a dormir."
Entenc molt bé, desgraciada sort, /
Percebo muito bem, infeliz sorte,
l'última arrel d'aquest trist pensament, /
a última raíz deste triste pensamento,
el seu perquè atàvic, jove, fort
jo sent en mi, corprès, profundament. /
sinto profundamente em mim
o seu porquê atávico, jovem, forte.
Al llit tan gran d'italiana mida /
Na cama de medida tão italiana
passe les nits sentint la teua absència, /
passo as noites sentindo a tua ausência
no dorm qui vol ni és d'oblit la vida, /
Não dorme quem quer nem a vida é de esquecimento,
amor, amor, és dura la sentència. /
amor, amor, é pesada a pena.
Quan tu te'n vas al teu país d'Itàlia /
Quando te vais para Itália
el dolor ve a fer-me companyia, /
a dor vem fazer-me companhia
i no se'n va, que creix en sa llargària, /
e crescendo não me deixa,
despert de nit somou, somort, de dia. /
acordada de noite e presente de dia.
Em passa això i tantes altres coses /
Acontece-me isso e tantas outras coisas
sentint-me sol que és sentir-te lluny; /
sentindo-me só que é sentir-te longe;
ho veig molt clar quan fa ja cent vint hores /
vejo-o claramente quando já passaram cento e vinte horas
que compte el temps que lentament s'esmuny. /
que conto o tempo que lentamente se desliza.
Vindrà el teu cos que suaument em poses /
Virá o teu corpo que suavemente pousas
en el meu cos quan ens sentim ben junts, /
no meu corpo quando nos sentimos bem juntos,
i floriran millor que mai les roses: /
e florirão melhor que nunca as rosas:
a poc a poc ens clourem com un puny. /
a pouco e pouco nos fecharemos como um punho.
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