Mas "Paz" não ganharia o Festival de la Cançó del Mediterrani. Ganha um tema em Catalão, "Se'n va anar", que se inscreve, mas com dignidade, nos padrões comerciais, com letra de Josep Maria Andreu e música de Lleó Borrell. "Se'n va anar" pode passar como uma grande canção de amor, mas também como uma saudação a "L'emigrant", de Vives i Verdaguer, ou, pelos mais dotados à hermenêutica, como uma metáfora do exílio; eram os tempos dos cinefóruns, sessões em que em torno de um filme serviam para que toda a gente desse a sua opinião, sempre contra a ditadura. Sem Raimon, toda esta componente teria estado ausente; com Salomé ou outra cantor do domínio da música ligeira, "Se'n va anar" não teria tido o significado reivindicativo que assumiu. Por isso a cantou, porque, de facto, tiveram de o convencer com argumentos deste teor. Raimon acabava de chegar de Aix-de-Provence mais politizado que quando tinha partido e aterrar num certame comercial era a última coisa que lhe passava pela cabeça. Explica-o desta forma:
Eu, ao princípio, não queria cantar num festival com aquelas características, que fugia muito ao que eu entendia ser a canção. Os meus princípios eram outros. Tinha feito "Al vent", "A colps", "Som", "La pedra"..., acabava mesmo de gravar a "Diguem no", tinha musicado um poema de Salvador Espriu... Não estava nos meus planos um festival de música comercial. Mas demoveram-me pela questão linguística. A situação do Catalão durante a ditadura era precária, para dizê-lo favoravelmente. E pensei que podíamos contribuir a dar um passo para a normalização linguística, para que o Catalão saísse do domínio privado e entrasse na cultura de massas. E aceitei o desafio, mas com a ideia do serviço a uma causa justa como o era a normalização da língua Catalã.
Joan Fuster teve a clarividência de perceber que a presença do seu jovem protegido num festival daria muito alento à Nova Cançó, tirá-la-ia das catacumbas. Não se salvou de algumas amarguras porque nem toda a gente via com bons olhos estampar aquela nódoa na pureza. Salvador Espriu escreveu a Fuster para que ele evitasse que Raimon entrasse no mundo das variedades. A carta de Espriu acabava assim, com a sua fina ironia: "Mas todos somos p..., o resto é questão de preço". Toda a maquinaria catalanista, com a engrenagem da Edigsa na linha da frente e um certo pacto de não agressão com as autoridades, propiciado por Fèlix Millet Maristany - empresário e mecenas de artistas e iniciativas políticas democráticas, presidente do Orfeão Catalão e cofundador do Òmnium Cultural -, conseguem levar "Se'n va anar" ao Festival, que era trasmitido pela TVE, e estivesse em condição de o vencer. Eram votos do público e "Se'n va anar" impor-se-ia por 583 votos contra os 481 de "Paz".
Eu, ao princípio, não queria cantar num festival com aquelas características, que fugia muito ao que eu entendia ser a canção. Os meus princípios eram outros. Tinha feito "Al vent", "A colps", "Som", "La pedra"..., acabava mesmo de gravar a "Diguem no", tinha musicado um poema de Salvador Espriu... Não estava nos meus planos um festival de música comercial. Mas demoveram-me pela questão linguística. A situação do Catalão durante a ditadura era precária, para dizê-lo favoravelmente. E pensei que podíamos contribuir a dar um passo para a normalização linguística, para que o Catalão saísse do domínio privado e entrasse na cultura de massas. E aceitei o desafio, mas com a ideia do serviço a uma causa justa como o era a normalização da língua Catalã.
Joan Fuster teve a clarividência de perceber que a presença do seu jovem protegido num festival daria muito alento à Nova Cançó, tirá-la-ia das catacumbas. Não se salvou de algumas amarguras porque nem toda a gente via com bons olhos estampar aquela nódoa na pureza. Salvador Espriu escreveu a Fuster para que ele evitasse que Raimon entrasse no mundo das variedades. A carta de Espriu acabava assim, com a sua fina ironia: "Mas todos somos p..., o resto é questão de preço". Toda a maquinaria catalanista, com a engrenagem da Edigsa na linha da frente e um certo pacto de não agressão com as autoridades, propiciado por Fèlix Millet Maristany - empresário e mecenas de artistas e iniciativas políticas democráticas, presidente do Orfeão Catalão e cofundador do Òmnium Cultural -, conseguem levar "Se'n va anar" ao Festival, que era trasmitido pela TVE, e estivesse em condição de o vencer. Eram votos do público e "Se'n va anar" impor-se-ia por 583 votos contra os 481 de "Paz".
Josep Benet lembra a imagem insólita da intelectualidade catalã votando num concurso de canção ligeira e a mobilização imediata quando a vitória de "Se'n va anar" ficou consolidada. O próprio falaria com Manuel Cubeles, que trabalhava na TVE, para garantir a cobertura posterior. Cubeles, muito sensível ao mundo da música, impulsionador do movimento de esbarts [grupo ou associação de defesa e difusão das danças tradicionais], decide ajudá-lo. Benet culmina a acção apresentando-se nessa mesma noite do festival na redacção do El Noticiero Universal, que fechava de madrugada porque era um vespertino, e coloca um anúncio do novo disco de Raimon, que continha "Se'n va anar", mas também "Diguem no"; Raimon pôs a sua canção mais dura ao lado da vencedora de um certame popularíssimo. Quem se atreveria a proibi-lo? O anúncio aparece ao lado da crónica do acontecimento e a conspiração fica selada: ganhou uma canção em Catalão e um dos que a defenderam, Raimon, não é um cantor comercial qualquer, senão o autor da canção mais comprometida escrita até àquela altura.
[Não é preciso dizer muito mais. A décima canção é a que com que - juntamente com Salomé - ganhou o Festival que ajudou a mudar o que faltava. Incluída no seu segundo disco (1963).
"Quem se atreveria a proibi-lo?" ]
Tant de temps que ha passat!
Dintre meu, tanta nit!
Dalt del cel, la ciutat
on potser
ella ha fugit.
Se'n va anar
en un dia molt clar.
Jo no sé
si a una terra llunyana.
Se'n va anar
cap enllà.
No sé pas
si tornarà.
Se'n va anar,
va donar-me la mà,
que a un adéu
no li cal cap paraula.
Se'n va anar
i un mirar
m'ha quedat per recordar.
Digue'm, amor, si és ben cert
que més enllà fa bon dia.
Digue'm, si mai que un es perd
és que ha trobat l'alegria.
Se'n va anar,
va donar-me la mà.
Jo no sé
quina cosa em diria.
Se'n va anar
cel enllà
i mai més
no tornarà.
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