quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

IV - La Cara al Vent (XV)

Em "Cançó de les mans", Raimon insiste na crítica da pobreza a que são maioritariamente condenados os assalariados. "Mans tan dures / dels que passen fam". E em defesa do direito à vida num país em que se aplicam ou aplicaram sentenças de morte ou se mata com a rapidez cruel da tortura e com a cruel lentidão da prisão: "Mans dels que maten, brutes; / mans fines que manen matar". Passara menos de um ano do fusilamento do dirigente comunista Julián Grimau; eram cinco e meia da manhã de 20 de Abril de 1963, e ainda com as cicatrizes por todo o corpo, consequência de terem-no lançado por uma janela para simular um suicídio que camuflasse as terríveis sessões de tormento.


[A canção de hoje, Cançó de les mans, a décima segunda na caixa de música, é uma das minhas preferidas. A versão que podemos ouvir é de 1968, incluída no disco simples cuja capa reproduzimos.]

De l'home mire
sempre les mans. /
Do homem olho
sempre as mãos.

Mans de xiquet, ben netes,
mans de xiquet que es faran grans.
Mans que en la nit busquen
allò que no troben mai. /
Mãos de miúdo, bem limpas,
Mãos de miúdo que se tornarão grandes.
Mãos que na noite procuram
o que nunca encontrarão.


Mans dels que maten, brutes;
mans fines que manen matar.
Mans tremoloses, eixutes,
mans tremoloses,
mans dels amants. /
Mãos dos que matam, sujas;
mãos sensíveis dos que mandam matar.
Mãos trémulas, secas,
mãos trémulas,
mãos dos amantes.


De l'home mire
sempre les mans. /
Do homem olho
sempre as mãos.

Mans tan dures
dels que passen fam.
Mans tan pures
de quan érem infants. /
Mãos tão duras
dos que passam fome.
Mãos tão puras
de quando éramos crianças.

De l'home mire
sempre les mans. /
Do homem olho
sempre as mãos.

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