A delicada Roig, romancista de grande sensibilidade, esvaziava todo o carregador da sua máquina de escrever. A imagem da vida da rua contra a morte da residência do ditador no palácio de El Pardo é chocante. Mas a lucidez da escritora deixa passar alguns dos itens que formalizam Raimon comprometido civicamente.
Não puderam liquidá-lo.
A ditadura agoniza e Raimon está em plenitude de faculdades. Começam a arranjar formas mais subtis - sem falar da actuação policial -: acusam-no de tudo o que podem, com o tópico sempre enfatizado de ter o coração à esquerda e a carteira à direita, movem campanhas nos jornais e um chega mesmo a inventar um "De Raymond", que se espalha ao comprido como cantor, não sem posar antes com roupa interior nas revistas do destape que proliferam naqueles anos de onanismo. Jesús Amilibia estreava a sua coluna na Hola, enquanto sinal de identidade da imprensa da badalhoquice e da boa sociedade, com uma entrevista em que De Raymond diz: "Não são só as mulheres que se destapam nos filmes. Os homens também têm direito. Neste filme faço duas cenas com dois completamente nus... é muito forte." O que era forte era que a ilustração de um tema tão substancial fosse uma foto de Raimon, neste teor: "O cantor valenciano De Raymond, durante a sua recente e brilhante actuação no Palácio Municipal de Desportos de Barcelona".
Raimon é porta-voz de todo um povo. Com os seus versos, produto de muita reflexão, de pensar em voz alta, retira da clandestinidade as ideias de emancipação social e nacional, de luta contra todo o tipo de injustiça e em especial contra a repressão, que trava o que faz e atemoriza o que quer fazer. Ir aos recitais de Raimon é inquietante, pode acontecer tudo, pode haver intervenção da polícia; dá medo, até, passar a fronteira com os seus discos registados em França. Maurici Serrahima tem-no escrito nas suas memórias, já antes citadas; refere-se a Agosto de 1966:
Os trâmites da aduana francesa eram elementares. (...) Tampouco a alfândega espanhola nos chateou muito - tínhamos a preocupação dos discos de Raimon - e entrámos em Camprodon com tempo para dar e vender.
Nos recitais, as frases-síntese são amplificadas pela rubrica coral dos aplausos e, ao acabar, é Raimon que aplaude o público na sua prévia dimensão de povo. É o que Manuel Sacristán dá a entender, no seu prólogo ao livro de Raimon Poemas i Cançons: "Com todos os bons que o acompanham." Este verso de Jordi de Sant Jordi, da canção "Desert d'amics", descreve um colectivo, o da gente comprometida que estava ao lado do autor na luta que o levou à prisão. Um preso do século XV que lembra os companheiros. "Mas não me retracto, porque fiz o meu dever / com todos os bons que me acompanham." Todos os bons, metáfora das vanguardas lutadoras.
Não puderam liquidá-lo.
A ditadura agoniza e Raimon está em plenitude de faculdades. Começam a arranjar formas mais subtis - sem falar da actuação policial -: acusam-no de tudo o que podem, com o tópico sempre enfatizado de ter o coração à esquerda e a carteira à direita, movem campanhas nos jornais e um chega mesmo a inventar um "De Raymond", que se espalha ao comprido como cantor, não sem posar antes com roupa interior nas revistas do destape que proliferam naqueles anos de onanismo. Jesús Amilibia estreava a sua coluna na Hola, enquanto sinal de identidade da imprensa da badalhoquice e da boa sociedade, com uma entrevista em que De Raymond diz: "Não são só as mulheres que se destapam nos filmes. Os homens também têm direito. Neste filme faço duas cenas com dois completamente nus... é muito forte." O que era forte era que a ilustração de um tema tão substancial fosse uma foto de Raimon, neste teor: "O cantor valenciano De Raymond, durante a sua recente e brilhante actuação no Palácio Municipal de Desportos de Barcelona".
Raimon é porta-voz de todo um povo. Com os seus versos, produto de muita reflexão, de pensar em voz alta, retira da clandestinidade as ideias de emancipação social e nacional, de luta contra todo o tipo de injustiça e em especial contra a repressão, que trava o que faz e atemoriza o que quer fazer. Ir aos recitais de Raimon é inquietante, pode acontecer tudo, pode haver intervenção da polícia; dá medo, até, passar a fronteira com os seus discos registados em França. Maurici Serrahima tem-no escrito nas suas memórias, já antes citadas; refere-se a Agosto de 1966:
Os trâmites da aduana francesa eram elementares. (...) Tampouco a alfândega espanhola nos chateou muito - tínhamos a preocupação dos discos de Raimon - e entrámos em Camprodon com tempo para dar e vender.
Nos recitais, as frases-síntese são amplificadas pela rubrica coral dos aplausos e, ao acabar, é Raimon que aplaude o público na sua prévia dimensão de povo. É o que Manuel Sacristán dá a entender, no seu prólogo ao livro de Raimon Poemas i Cançons: "Com todos os bons que o acompanham." Este verso de Jordi de Sant Jordi, da canção "Desert d'amics", descreve um colectivo, o da gente comprometida que estava ao lado do autor na luta que o levou à prisão. Um preso do século XV que lembra os companheiros. "Mas não me retracto, porque fiz o meu dever / com todos os bons que me acompanham." Todos os bons, metáfora das vanguardas lutadoras.
Sem comentários:
Enviar um comentário