Naquela noite, Raimon estreava "Jo vinc d'un silenci", tão mencionado no relatório policial. Podemos escutá-la no CD n. 10, intitulado "Directes i alguns indirectes", da Nova Intergral. Edição 2000. Para contrapor a versão policial daquele concerto histórico, reproduz-se o artigo que Montserrat Roig escreveu no semanário Treball, órgão clandestino do PSUC, o que obrigava a assinar com pseudónimo. Montserrat Roig, como George Sand, assinava com nome de homem: "Capitão Nemo", a personagem de Jules Verne em 20 Mil Léguas Submarinas. Montserrat Roig, amante de Brahms e admiradora de Raimon, prescindia da arte e lançava uma proclamação (10 de Novembro de 1975):
Enquanto o ditador que provocou uma guerra agoniza, mais de oito mil pessoas - e muitas ficaram à porta - concentraram-se para manifestar o desejo de paz e de mudança democrática. Isso foi o que representou o recital que Raimon deu no Palau dels Esports de Montjuïc, no passado dia 30 de Outubro. A pouco e pouco, com calma, com serenidade, que nada tem a ver com a que proclamam os franquistas, gente de todas as idades foi chegando ao Palau dels Esports. Que os unia? Unia-os a necessidade de se afirmarem colectivamente como povo, de expressar o desejo de liberdade. E não só afirmaram tudo isso, como também qual é hoje o estado de espírito de dezenas, de centenas de milhares de pessoas: a disposição para o combate político, a disposição a não deixar que os nossos destinos - os destinos de todo o povo - continuem manipulados à distância por uma pequena oligarquia corrompida, agora que o ditador se acaba.
A imprensa legal já menosprezou o magnífico espectáculo no Palau dels Esports. Os aplausos repetiam-se, os gritos de "Llibertat", "Amnistia!", "Visca l'Assemblea de Catalunya!" serviam de contraponto das canções de Raimon. De quando em vez surgiam milhares de pequenas luzes de diversos lugares do Palácio, luzes que se multiplicavam até iluminar todo o recinto. Uma só luz não se sente, mas tantas e tantas luzes demonstram-nos, uma vez mais, que somos, como diz um dos versos de Espriu cantados por Raimon, um povo que não se resigna a morrer.
Não foi um acto de consagração de um artista. Enquanto o público aplaudia Raimon, este, por diversas vezes, aplaudia o público - como dantes faziam os oradores nos encontros políticos - simbolizando o carácter comunitário do que se passava naquela noite no Palau dels Esports; simbolizando tudo o que era um episódio da grande marcha colectiva para a liberdade, na qual o artista, o líder, a personagem, não é senão o porta-voz da massa, de todo um povo.
Era um povo cheio de vida o que gritava, perante a morte que arruma El Pardo e seus fantoches apegados a um poder que se rompe. Um povo que tinha sabido dizer, uma vez mais, que só a união nos pode levar à vitória definitiva.
Enquanto o ditador que provocou uma guerra agoniza, mais de oito mil pessoas - e muitas ficaram à porta - concentraram-se para manifestar o desejo de paz e de mudança democrática. Isso foi o que representou o recital que Raimon deu no Palau dels Esports de Montjuïc, no passado dia 30 de Outubro. A pouco e pouco, com calma, com serenidade, que nada tem a ver com a que proclamam os franquistas, gente de todas as idades foi chegando ao Palau dels Esports. Que os unia? Unia-os a necessidade de se afirmarem colectivamente como povo, de expressar o desejo de liberdade. E não só afirmaram tudo isso, como também qual é hoje o estado de espírito de dezenas, de centenas de milhares de pessoas: a disposição para o combate político, a disposição a não deixar que os nossos destinos - os destinos de todo o povo - continuem manipulados à distância por uma pequena oligarquia corrompida, agora que o ditador se acaba.
A imprensa legal já menosprezou o magnífico espectáculo no Palau dels Esports. Os aplausos repetiam-se, os gritos de "Llibertat", "Amnistia!", "Visca l'Assemblea de Catalunya!" serviam de contraponto das canções de Raimon. De quando em vez surgiam milhares de pequenas luzes de diversos lugares do Palácio, luzes que se multiplicavam até iluminar todo o recinto. Uma só luz não se sente, mas tantas e tantas luzes demonstram-nos, uma vez mais, que somos, como diz um dos versos de Espriu cantados por Raimon, um povo que não se resigna a morrer.
Não foi um acto de consagração de um artista. Enquanto o público aplaudia Raimon, este, por diversas vezes, aplaudia o público - como dantes faziam os oradores nos encontros políticos - simbolizando o carácter comunitário do que se passava naquela noite no Palau dels Esports; simbolizando tudo o que era um episódio da grande marcha colectiva para a liberdade, na qual o artista, o líder, a personagem, não é senão o porta-voz da massa, de todo um povo.
Era um povo cheio de vida o que gritava, perante a morte que arruma El Pardo e seus fantoches apegados a um poder que se rompe. Um povo que tinha sabido dizer, uma vez mais, que só a união nos pode levar à vitória definitiva.
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