Os ítens especiais da "Cançó de la mare" são, em primeiro lugar, a saída do lugar e do seu entorno afectivo. Raimon dá o passo de sair do ecossistema que o tinha configurado e que temos visto forma parte do seu imaginário; não podia ser doutra forma, se damos o justo valor que a infância tem na criação da personalidade. Se Vázquez Moltalbán, um dos grandes amigos de Raimon, costumava explicar o trauma que supôs para ele, nascido no bairro de Raval, cruzar a Gran Via sem sair da mesma Barcelona, pensemos no salto à vara que supõe passar de uma povoação rural e secular muito longínqua, à grande conurbação metropolitana, numa época em que as distâncias ainda não se tinham encurtado graças às comunicações aéreas, do asfalto, do ferro, ou do cabo.
Em segundo lugar, encontramos um corpo ideológico definido pela recusa da injustiça em manifestações já concretizadas em "Diguem no" como o medo, o sangue e a fome. E a definição inequívoca de dizê-lo na sua língua, com a expressão "maltractada llengua" que se tornará numa referência verbal de que a sociedade se apropriará e a fará popular. Tal como a célebre frase "qui perd els orígens, perd identitat". Uma apropriação sem dúvida indevida, mas que, ao contrário do plágio, encoraja as suas vítimas: que há de mais bonito que dar por popular uma frase própria?
Raimon faz uma declaração de princípios sobre o Catalão a pensar nas intenções de genocídio linguístico do franquismo, mas fá-lo quando o monolinguísmo como característica fundacional da Nova Cançó começa a ser questionado e transgredido. A partir de um ponto de vista alargado, a reflexão de Raimon sobre a língua vai mais além, tem uma profundidade mais ampla. "A língua é o meu possível patriotismo", escreve em Les hores guanyades. "É um activo que encontras sem ter procurado, como a família ou o lugar onde nasces, e isso informa-te o pensamento". Raimon fala da língua como algo quase pré-natural e, sem dúvida, pré-político, não meramente instrumental.
Finalmente, um terceiro elemento da "Cançó de la mare", que se liga ao primeiro, é a inscrição cívica em Barcelona. O significado de "irmãos" estende-se para lá do significado biológico, como se estende também o de "casa".
Quando Raimon e Annalisa chegam a Barcelona para aí se instalarem, ficam uma semana na Pensión Antibes, muito perto da Monumental, um lugar frequentado pelas quadrilhas de toureiros, e a seguir encontram um piso no passeio de Maragall, um último piso não muito grande mas que bem guarnecido que depois será duplex graças a uma pequena escada e que consome pouco espaço, e que contrapesa o ruído com muita luz e uma vista para a belíssima quinta renascentista Torre Llobeta e, ao fundo, para o parque do Turó de la Peira, quando ainda era uma monte com pinheiros, isso sim, no mais rançoso nacionalcatolicismo, coroada por uma cruz enorme. Viverão em Maragall até 1978.
Em segundo lugar, encontramos um corpo ideológico definido pela recusa da injustiça em manifestações já concretizadas em "Diguem no" como o medo, o sangue e a fome. E a definição inequívoca de dizê-lo na sua língua, com a expressão "maltractada llengua" que se tornará numa referência verbal de que a sociedade se apropriará e a fará popular. Tal como a célebre frase "qui perd els orígens, perd identitat". Uma apropriação sem dúvida indevida, mas que, ao contrário do plágio, encoraja as suas vítimas: que há de mais bonito que dar por popular uma frase própria?
Raimon faz uma declaração de princípios sobre o Catalão a pensar nas intenções de genocídio linguístico do franquismo, mas fá-lo quando o monolinguísmo como característica fundacional da Nova Cançó começa a ser questionado e transgredido. A partir de um ponto de vista alargado, a reflexão de Raimon sobre a língua vai mais além, tem uma profundidade mais ampla. "A língua é o meu possível patriotismo", escreve em Les hores guanyades. "É um activo que encontras sem ter procurado, como a família ou o lugar onde nasces, e isso informa-te o pensamento". Raimon fala da língua como algo quase pré-natural e, sem dúvida, pré-político, não meramente instrumental.
Finalmente, um terceiro elemento da "Cançó de la mare", que se liga ao primeiro, é a inscrição cívica em Barcelona. O significado de "irmãos" estende-se para lá do significado biológico, como se estende também o de "casa".
Quando Raimon e Annalisa chegam a Barcelona para aí se instalarem, ficam uma semana na Pensión Antibes, muito perto da Monumental, um lugar frequentado pelas quadrilhas de toureiros, e a seguir encontram um piso no passeio de Maragall, um último piso não muito grande mas que bem guarnecido que depois será duplex graças a uma pequena escada e que consome pouco espaço, e que contrapesa o ruído com muita luz e uma vista para a belíssima quinta renascentista Torre Llobeta e, ao fundo, para o parque do Turó de la Peira, quando ainda era uma monte com pinheiros, isso sim, no mais rançoso nacionalcatolicismo, coroada por uma cruz enorme. Viverão em Maragall até 1978.
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