sábado, 30 de junho de 2007

Dona Abastança



O disco "Que Nunca Mais", com produção e arranjos de Fausto e poemas do escitor alentejano Manuel da Fonseca, foi lançado em 1975, expressando ainda a opressão do 24 de Abril. A hiprocisia, essa, continua.

"(...) a caridade, que para nós, por uso que as senhoras piedosas têm feito da palavra, tomou um significado muito diferente daquele que a palavra tem. Ter caridade para com uma pessoa não significa, como em geral pensam as pessoas, ajudá-la a viver com aquilo que nos sobra a nós. Caridade significa ver no outro a graça, charis, que está oculta pela sua miséria, pela sua falta de educação, pela sua deformidade física mesmo. O homem caridoso com o aleijado é aquele que vê nele a graça que podia tê-lo feito um magnífico atleta, se a sua sorte ou se as suas condições de vida não o tivessem levado a ser apenas um fragmento de gente. E o homem que vê no miserável, no desgraçado que pede esmola ou naquele que leva uma vida miserável, a charis interior, a graça com que ele nasceu e que perdeu vivendo - isso é que é a caridade."

Agostinho da Silva, in Vida Conversável (Ed. Assírio e Alvim, 1994)


"A caridade é amor"
Proclama Dona Abastança,
Esposa de um comendador,
Senhor da alta finança

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns
A outros, nada
"Dar a todos não se pode!"

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado


[refrão x2]
Já se deixa ver
que não pode ser
Quem dá o que tem
Um dia há-de vir bem

O bem da bolsa lhes sai
Sai caro fazer o bem
Ela dá, ele subtrai
Fazem como lhes convém

Ela aos pobres dá uns cobres
Ele (...) lá vai
Com o que tira a quem roubou
Fazendo mais e mais pobres

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado

Ao engano sempre novo
De tão estranha caridade
Pôr o dinheiro do povo
Contra o povo da cidade

sábado, 16 de junho de 2007

La Matança del Porc

Para hoje, uma canção duríssima. Dura mas engraçada. O que se descreve é uma prática muito nossa conhecida. Mas para o que se alude é para outra coisa. Escrita para o álbum "Triat i Garbellat", de 1971, por um dos meus cantores catalães preferidos. O seu nome é Pi de la Serra e as suas letras são do melhor que há em ironia e causticidade. Desde 62 a gravar, lançou há semanas o seu último disco, "Tot".




Avui és la diada de matar el porc / Hoje é dia de matar o porco
que em anat engreixant des de fa massa anys / Que temos vindo a engordar há já muitos anos
amb llet de la més bona, amb tomaquets de l'hort, / Com leite do melhor, com tomates da horta,
amb la millor farina, patates i ous. / Com a melhor farinha, batatas e ovos.

La porca està trista i nosaltres contents, / A porca está triste e nós contentes,
ja no passarem gana per un quant temps, / Já não passaremos fome por algum tempo,
ja no passarem gana per un quant temps. / Já não passaremos fome por algum tempo.

Poseu-hi unes graelles i un bon suport, / Ponde umas grelhas e um bom suporte
feu una gran foguera d'alzina i pi, / Fazei uma grande fogueira de azinheira e pinho,
rustiu-lo i xisclarà, senyal que no és ben mort, / Queimai-o e guinchará, sinal de que ainda não está bem morto,
afanyeu-se que bufa vent de garbí. / Assegurai-vos que sopre vento de sudoeste.

Quan no li quedi un pèl, feu-li un gran tall al coll, / Quando não lhe restar um pêlo, dai-lhe um grande golpe no pescoço,
i amb la sang que li ragi n'ompliu un doll, / e com o sangue que jorrar enchei (uma malga?),

i amb la sang que li ragi n'ompliu un doll. / e com o sangue que jorrar enchei (...)

Puix ja de panxa en l'aire el col·loqueu, / Então, colocai-o de pança prò ar,
amb la daga més fina obriu-lo en canal, / Com a faca mais afiada abri-lhe em rego,
netegeu-li els budells i tot el que hi trobeu, / Limpai-o dos miúdos e de tudo o que encontrardes
talleu la carn rosada i poseu-la en sal. / Cortai a carne rósea e ponde-lhe sal.

La porca està plorant, nosaltres rient, / A porca está a chorar, e nós a rir
ens menjarem la llengua del seu parent, / Vamos comer a língua do seu companheiro,
ens menjarem la llengua del seu parent. / Vamos comer a língua do seu companheiro.

Demà hi haurà bon tall, s'ha acabat la fam, / Amanhã haverá boa carne, acabou-se a fome,
demà passat fuet i després pernil, / Amanhã será chouriço depois presunto,
i quan s'acabi el porc hi passarà la porca / E quando se acabar o porco, será a vez da porca
i després els garrins i tots els porcs del món. / E depois os leitõezinhos e todos os porcos do mundo.

Avui és la diada de matar el porc. / Hoje é o dia de matar o porco.
És la diada de matar el porc. / É o dia de matar o porco.
Matar el porc. / Matar o porco.

sábado, 9 de junho de 2007

Tiro-no-Liro

Para hoje, proponho a todos que meditemos numa das mais lúcidas, bem conseguidas e aparentemente inocentes letras escritas na língua de José Afonso. É a canção Tiro-no-Liro, da autoria do grande José Mário Branco. Encontra-se no álbum de 85, "A Noite".


Reparem só na quantidade de trocadilhos e assonâncias! Isto, sim, é dar-nos uma lição de língua! A nós, que a vamos descarnando quotidianamente...



Na zoologia do fala-só
Há muitos animais de tiro
Há o tiro-liro-liro e não só
Também o tiro-liro-ló.

Seja no liro-liro ou liro-ló
O tiro-liro leva tiro
Que é o mesmo que três liros e um ló
Feridos por um tiro só

(refrão)
Quem dá o tiro no liro
Vai prò chilindró
Quem dá o tiro no ló
Anda de pó-pó

Lá em cima está o tiro-liro-liro
Cá em baixo o tiro-liro-ló

Mas o liro que eu prefiro é o ló
Que ao liro-liro tira o tiro
Pois enquanto o ló transpira no pó
O liro tira o pão do ló

Há-de vir o dia em que o liro-ló
Será igual ao liro-liro
Com a concertina e o sol-e-dó
Unidos por um tiro só

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Lluí­s Llach al Camp Nou - Abril 74

L'estaca



Lluís Llach al Camp Nou 1985 -

sábado, 2 de junho de 2007

El Cobarde

Um dos singles com a canção de hoje (1970)

Para hoje, tenho o enorme prazer de partilhar convosco uma canção de um disco belíssimo e que infelizmente não está acessível (em formato cd). O disco é o primeiro longa-duração do cantor asturiano Víctor Manuel, datado de 1970, que recolhe esta e outras canções.
Um desses temas é, então, "El Cobarde", cuja letra vos deixo.


El Cobarde

Vivo en mi pueblo pequeño
Le fé, la alegría, la paz del hogar,
hay una niña morena
que tras el trabajo me llena de paz,
Hay una ermita en el monte
que todas las tardes escucho cantar
y aquel arroyo tan claro
que riega los campos que son nuestro pan.

Era la tarde un suspiro
y aquellos soldados llegaron acá
“Quietos los niños y viejos.
La gente más joven tendrá que luchar!”
Tiembla el fusil en mi mano
cerrando los ojos disparo al azar
Bala perdida que mata
a cualquier inocente con ansia de paz.

¿Por quién lucho yo
Si en mi corta vida no existe el rencor?
¿Por quién lucho yo
Que vivo la vida con fé y con amor?

Juan, debes de callar!
Esto es una guerra no lo has de olvidar.
Juan, trata de olvidar
aquella muchacha, la paz del hogar.

Llegan los años de cárcel
yo soy un cobarde, no quiero matar.
Dicen que nuestros soldados
ganaron la guerra, renace la paz
Vuelvo a mi pueblo pequeño
la gente sonrie, murmura al pasar
“Mira aquel joven cobarde
que vuelve la espalda en vez de luchar”

Dejo con pena las cosas
Que fui levantando y solo sin más
Vivo aquí arriba en el monte
soñando que un día pueda regresar.