quarta-feira, 4 de março de 2009

VII - Crec que també és ma casa (III)

A proximidade de Gispert e de Pi de la Serra facilita a mudança de registo. Annalisa, para quem é ainda mais complicado, aprende Catalão com uma rapidez insólita e cedo ambos farão parte da paisagem barcelonesa com toda a naturalidade. No que diz respeito ao trabalho, é só andar um bocadinho e labutar. Raimon começa a trabalhar e a projectar a sua obra criativa. São anos muito activos, e tê-lo-iam sido bem mais se a ditadura não fizesse tudo o possível para que fosse ao contrário.

Em 1965 tem uma actuação que será fundamental na trajectória do cantor e da música popular. Actua pela primeira vez sozinho na Aliança del Poble Nou e baptiza-a de "recital". A canção de autor tinha nascido contra a corrente que era a da música ligeira ou moderna - assim é como se qualificava o espaço fora da[música] clássica -; e isso passava-se na Europa, até em França, que era de alguma maneira a célula-mãe daquele embrião. As actuações dos artistas adscritos a esta corrente eram muito precárias, faziam parte de espectáculos de variedades e variados e, se eram específicos, era raro encontrar um programa com apenas um cantor.

A canção ainda não tinha encontrado o termo mais adequado e já Raimon inventava o "recital". É uma palavra cheia de conotações poéticas, de quando a poesia se escrevia mais para ser recitada que lida, ou seja, com uma componente sonora baseada na vocalização e na inflexão de letras e sílabas, na rima, nas figuras de estilo com funções sonantes, como a aliteração ou o ritmo. A poesia tinha uma componente musica e Raimon e os seus colegas o que vinham trazer de diferente com o seu meio era que os seus textos diziam alguma coisa, eram uma forma de literatura.

Raimon é o primeiro a usar o termo "recital" para um espectáculo de canção. Se bem que tenha restringido o número dos participantes, conserva a pluralidade e fá-lo com dois ou três, Ovidi Montllor e Pi de la Serra, sobretudo. Depois actuará cada vez mais sozinho.

Sem comentários: