terça-feira, 31 de março de 2009

O mais esquecido dos mais importantes




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Algum dia teríamos que tropeçar no Luís Cília...

terça-feira, 10 de março de 2009

VII - Crec que també és ma casa (IV)

Um lugar muito especial para Raimon é o Palau de la Música Catalana. A sede do Orfão Catalão é o centro da vida concertística da capital e do país, até mesmo de Espanha, como o testemunham as estreias e primeiras audições que constam nos seus anais; nenhum outro teatro ou auditório do Estado pode igualá-las. No Palau se ouviram pela primeira vez entre nós monumentos capitais da história da arte do som, como a Paixão segundo São Mateus, ou a Missa em Si menor, de Bach; a Missa Solemnis, de Beethoven... Mas frente ao busto de Beethoven que preside à boca do cenário, há o de Josep Anselm Clavé, o símbolo da música popular. Todas as músicas, sem distinção adjectiva, conviveram na Palau, a "casa dos cantos", como o qualificou Joan Maragall.

Raimon e o Palau têm uma relação muito especial. Desde o seu primeiro recital, em 1967, que ficou registado em disco, até à série, também gravada, de 1997, passando para o outro lado do limiar do século. Nos meses de Novembro e Dezembro de 2000, Raimon edita a Nova Integral e faz sete actuações no Palau, num cômpto geral de 15 mil espectadores, depois de um primeiro no Teatre Principal de València. O último dia do Palau, 2 de Dezembro, celebra o seu sexagésimo aniversário; em companhia dos amigos mais especiais, com pastéis e champanhe.

Raimon inventa o "recital" à catalã, mas já fora pioneiro noutros âmbitos. Editou um disco de longa duração musicando um poeta, no caso Salvador Espriu e as Cançons de la Roda del Temps, encomendou a capa do mesmo a Joan Miró, o que também é novo. Tal como o é, no mesmo disco, incluir um texto de um intelectual da talha de Joan Fuster. O mesmo Espriu também comentará a sua obra [de Raimon], excepção que não abria. Tudo junto com a clara intencionalidade de resgatar a canção popular de um submundo e de um subgénero para a erguer em pleno no plano aberto da cultura. Nesta mesma direcção segue o trabalho com músicos dos considerados clássicos, para acabar de vez, no campo próprio, com equívocos conservadores que entendiam que tudo aquilo não era bem música.

quarta-feira, 4 de março de 2009

VII - Crec que també és ma casa (III)

A proximidade de Gispert e de Pi de la Serra facilita a mudança de registo. Annalisa, para quem é ainda mais complicado, aprende Catalão com uma rapidez insólita e cedo ambos farão parte da paisagem barcelonesa com toda a naturalidade. No que diz respeito ao trabalho, é só andar um bocadinho e labutar. Raimon começa a trabalhar e a projectar a sua obra criativa. São anos muito activos, e tê-lo-iam sido bem mais se a ditadura não fizesse tudo o possível para que fosse ao contrário.

Em 1965 tem uma actuação que será fundamental na trajectória do cantor e da música popular. Actua pela primeira vez sozinho na Aliança del Poble Nou e baptiza-a de "recital". A canção de autor tinha nascido contra a corrente que era a da música ligeira ou moderna - assim é como se qualificava o espaço fora da[música] clássica -; e isso passava-se na Europa, até em França, que era de alguma maneira a célula-mãe daquele embrião. As actuações dos artistas adscritos a esta corrente eram muito precárias, faziam parte de espectáculos de variedades e variados e, se eram específicos, era raro encontrar um programa com apenas um cantor.

A canção ainda não tinha encontrado o termo mais adequado e já Raimon inventava o "recital". É uma palavra cheia de conotações poéticas, de quando a poesia se escrevia mais para ser recitada que lida, ou seja, com uma componente sonora baseada na vocalização e na inflexão de letras e sílabas, na rima, nas figuras de estilo com funções sonantes, como a aliteração ou o ritmo. A poesia tinha uma componente musica e Raimon e os seus colegas o que vinham trazer de diferente com o seu meio era que os seus textos diziam alguma coisa, eram uma forma de literatura.

Raimon é o primeiro a usar o termo "recital" para um espectáculo de canção. Se bem que tenha restringido o número dos participantes, conserva a pluralidade e fá-lo com dois ou três, Ovidi Montllor e Pi de la Serra, sobretudo. Depois actuará cada vez mais sozinho.