domingo, 13 de abril de 2008

V - Caminant, amics (VI)

Com os anos, o panorama muda, as caminhadas sedentarizam-se e as noites ruem, mas a ideia informadora da amizade sobrevive e fortalece-se. Na paisagem quotidiana de Raimon em Barcelona há o político Rafael Ribó, o jornalista Enric Sopena e o pintor Joan-Pere Viladecans, entre outros. Este seria um primeiro círculo, já que naturalmente Raimon conhece muita gente e há muitos pontos álgidos de ligação momentânea, mas que pelas circunstâncias não chegam a sedimentar-se. As suas canções ilustram-nos estes episódios. Em "No el coneixia de res" evoca uma estadia intensa com um líder sindical. O anonimato de "A un amic d'Euskadi", datada de 1968, ano em que a ETA perde o seu primeiro militante e executa o polícia torturador mais odiado, indica que poderosas razões de clandestinidade fazem enfraquecer aquela relação. Josep Pla, à distância ideológica mas a partir de um grande respeito mútuo, também acabaria por ser amigo de Raimon se o espaço e o tempo o houvessem permitido. Apesar disso, Raimon guarda boas recordações de Pla e lê-o e relê-o.

Ribó, professor da Faculdade de Ciências Económicas, autor da primeira tese doutoral defendida em Catalão desde 1939, seria secretário-geral do PSUC, deputado e, posteriormente, com a chegada da Esquerda à Generalitat, no ano de 2004, Síndic de Greuges [pessoa nomeada pelo Parlamento da Catalunha para a defesa das liberdades dos cidadãos]. A presença de Ribó na direcção comunista levaria Annalisa a militar durante uns tempos na comissão de cultura, onde se via que Manuel Vázquez Montalbán mandava. Mas foi mais rápida a sua saída que a entrada. Os partidos políticos são intrinsecamente necessários à democracia, mas os seus esquemas de funcionamento são tão obsoletos que, às vezes, não passam de reuniões de vão de escada [espero ter traduzido bem esta passagem...] ; talvez a chama dos movimentos sociais, em torno da altermundialização, os enferruje.

Fosse como fosse, Raimon, que se molhou de política mas soube manter-se seco de políticos, quis evitar que no seu recital comemorativo dos trinta anos de "Al vent" houvesse autoridades nas primeiras filas, que reservou para os amigos. Quando Ribó chegou aos lugares reservados, disseram-lhe não o estavam para políticos, mas para os amigos. Ribó, tranquilo, disse: "Venho como amigo". Passou ele... E depois todos os outros, não haveria discriminações.
Sopena é um dos grandes jornalistas catalães; realizou uma tarefa activa na ajuda à oposição antifranquista e tem a honra, para a história do jornalismo catalão, de ter estado detido para poder dar a exclusiva mais importante da luta antifranquista: a constituição da Assembleia da Catalunha, a 7 de Novembro de 1971. Sopena, depois de ter exercido cargos directivos em diversos meios, na imprensa, na rádio e televisão, pratica com muito bom critério o jornalismo de opinião.

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