sábado, 29 de setembro de 2007

No Ens Parleu de Somnis

Rafael Subirachs - 1968

1968 - Compilação, 2006

A letra é do já falecido poeta Miquel Martí i Pol. A canção, de Rafael Subirachs, cantor que enveredou pela música contemporânea. Mas que nos primeiros tempos, fazia canções como a de hoje, datada de 1968. Noutro dia, traremos mais peças, para melhor elucidar o caro ouvinte e leitor melómano.


No ens parleu de somnis / Não nos faleis de sonhos
Ni de meravelles, / Nem de fantasias,
Som massa novells / Somos demasiado novos
I no us entendriem. / E não vos entenderíamos
Estalvieu els mots/ Poupai as palavras
Qui sap si més tard / Quem sabe se mais tarde
Es podran vendre. / Poderão ser vendidas.

No ens doneu la má / Não nos deis a mão
Ni oferiu ajuda / Nem ofereçais ajuda,
Som massa novells / Somos demasiado novos
I no us entendriem. / E não vos entenderíamos.

Feu allargar l'esforç / É preciso guardar a força
Qui sap si més tard / Quem sabe se mais tarde
Es podrà vendre. / Poderá ser vendida.


No canteu amb mi / Não canteis comigo
Ni ploreu pels altres / Nem choreis pelos outros,
Som massa novells / Somos demasiado novos
I no us entendriem. / E não vos entenderíamos.
Han canviat els temps, / Os tempos mudaram
Només val allò / Só vale o que
Que es podrà vendre / Se puder vender.

domingo, 23 de setembro de 2007

Ouvindo Beethoven

Manuel Freire - Pedra Filosofal
Pedra Filosofal - 1993 (reed.)

Acho que à canção de hoje pouco podemos acrescentar. Deixo apenas a crítica à reedição do disco "Pedra Filosofal", disco originalmente editado em 1970. A reedição, cuja capa aqui reproduzimos, de 1993, que foi apenas passado - directamente! - do vinil para cd. Não merecia. Nem o Manuel, nem o Saramago, autor deste poema, nem a cultura portuguesa.


Venham leis e homens de balanças
Mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças
Desça em nós o juízo até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
A luz vermelha brilhe inquisidora
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura

A quantas mãos existam peçam dedos
Para sujar nas fichas dos arquivos
Não respeitem mistérios nem segredos
Que é natural os homens serem esquivos

Ponham livros de ponto em toda a parte
Relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
Que a prosa do registo, verso acta.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de ruir em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

The Ballad Of John Henry Faulk

Hoje, são duas as canções. Esta é a primeira fora de línguas latinas. O seu autor, Phil Ochs, grande cantor dos Estados Unidos, foi vítima de assassinato por parte da CIA. Por ter ficado com as cordas vocais danificadas, acabou por enforcar-se. Enfim, coisas da democracia estadunidense...
Fiquemos então com esta poderosa letra sobre a opressão em tempos camaleónicos...

Phil Ochs - The Broadside Tapes 1

The Broadside Tapes 1, disco de 1989 que reúne canções não editadas oficialmente em álbum, para a revista Broadside


I'll tell you the story of John Henry Faulk.
I'll tell you of his trials and the troubled trail he walked,
And I'll tell of the tyrants, the ones you never see:
Murder is the role they play and hatred is their fee.

On the TV and the radio John Henry Faulk was known.
He talked to many thousands with a mind that was his own,
But he could not close his eyes when the lists were passed around,
So he tried to move the Union to tear the blacklist down.

His friends they tried to warn him he was headin' for a fall.
If he spoke against the blacklist he had no chance at all,
But he laughed away their warnings and he laughed away their fears:
For how could lies destroy the work of many honest years?

Then slowly, oh so slowly, his life began to change.
People would avoid his eyes, his friends were actin' strange,
And he finally saw the power of the hidden poison pen
When they told him that his job was through, he'd never work again.


And he could not believe what his sad eyes had found.
He stared in disbelief as his world came tumblin' down,
And as the noose grew tighter, at last the trap was clear:
For every place he turned to go, that list would soon be there
-- Oh, that list.

And is there any bottom to the fears that grow inside?
Is there any bottom to the hate that you must hide?
And is there any end to your long road of despair?
Is there any end to the pain that you must bear?

His wife and children trembled, the time was runnin' short,
When a man of law got on their side and took them into court,
And there upon the stand they could not hide behind their lies,
And the cancer of the fascist was displayed before our eyes.


Hey, blacklist, you blacklist, I've seen what you have done.
I've seen the men you've ruined and the lives you've tried to run,
But the one thing that I've found is, the only ones you spare
Are those that do not have a brain, or those that do not care.

And you men who point your fingers and spread your lies around,
You men who left your souls behind and drag us to the ground,
You can put my name right down there, I will not try to hide --
For if there's one man on the blacklist, I'll be right there by his side.

For I'd rather go hungry to beg upon the streets
Than earn my bread on dead men's souls and crawl beneath your feet.
And I will not play your hater's game and hate you in return,
for it's only through the love of man the blacklist can be burned.

Senhor Marquês

Será que os tempos mudaram? Sim, óbvio que sim. Indesmentivelmente. Mas algo permanece. Vejamos se palavras passadas nos iluminam o entendimento para os tempos presentes. A voz e a letra, simples e eficaz, são do senhor Sérgio Godinho, um dos grandes mestres da comunicação na língua do Zeca Afonso e Chico Buarque.

O disco "Os Sobreviventes", de 1971, é um dos daquele incontornável ano para a música popular portuguesa, ao lado de "Cantigas do Maio", "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", "Gente de Aqui e de Agora", "Movimento Perpétuo" e (quanto a mim...) "Canções de Amor e Esperança". Ouçam-nos quanto antes.

Sérgio Godinho - Os Sobreviventes

Os Sobreviventes, 1971

Olhe pr'áqui uma vez
Senhor Marquês
Do bairro da lata
está'gente farta
Senhor Marquês
e o nosso fim do mês?

Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta

"- Ó da guarda, ladrões
p'los meus brasões
ai meu Deus socorro!
Jesus qu'eu morro!"
grita o Marquês
ninguém vem desta vez

Venha por aqui ver isto
Senhor Ministro
que estes bandidos
uns mal-nascidos
'inda sem dentes
e já delinquentes

Meta aqui o nariz
Senhor Juiz
nós somos bandidos
ou mal-nascidos?
Senhor Ministro
perdoe s'insisto

Se nós somos ladrões
temos razões
que não são as suas
são minhas, tuas
e d'outros mais
de muitos, muitos mais.

Olhe pr'áqui uma vez
Senhor Marquês
Do bairro da lata
está'gente farta
Senhor Marquês
e o nosso fim do mês?

Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta

Passe pra cá'carteira
da sua algibeira
carteira em couro
relógio d'ouro
não lhe faz falta
e faz-nos jeito à malta
pr'ó nosso fim do mês

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Eh Vizinho Porco

José Almada - Homenagem

Homenagem (Lp de 1970)

Poema do grande José Gomes Ferreira musicado pelo vimaranense e muito esquecido (nestas alturas, desconhecido) José Almada. Hoje, dia 6 de Setembro, José de Almada Guedes Machado faz 56 anos. Onde andas, José? É assim que te prestamos homenagem.


Eh vizinho porco
todo o dia de borco
a fuçar na terra
onde nasceu

E assim o aldeão
a sua lição
de pensar menos no céu
e mais no chão.

Na terra, camponês,
também há estrelas,
que tu não vês,
mas hás-de vê-las.